Líder com ativos da Dow, Braskem olha polietileno nos EUA

A petroquímica Braskem anunciou ontem a compra dos ativos de polipropileno (PP) da Dow Chemical, que incluem duas fábricas nos Estados Unidos e duas unidades na Alemanha, por US$ 323 milhões. Com essa aquisição, a companhia torna-se líder em PP nos EUA e consolida-se como a terceira maior produtora global dessa resina, afirmou Carlos Fadigas, CEO do grupo, controlado pela Odebrecht..

O plano de internacionalização da Braskem caminha a passos largos e deverá ter novos desdobramentos nos próximos meses. É que o apetite da companhia por aquisições nos EUA ainda não terminou, disse Fadigas. Com uma posição confortável em PP em território americano, o grupo já avalia outros negócios para iniciar a produção de polietileno (PE), outro tipo de resina, nos EUA.

A estratégia de expansão da Braskem em polietileno deverá ser um pouco diferente da adotada em PP. Atualmente, a produção de PE do grupo é da ordem de 3 milhões de toneladas, 100% concentrada no Brasil. A meta é dobrar essa produção em cinco anos. Os projetos incluem o Comperj, estimado entre 1 milhão e 1,3 milhão de toneladas ao ano, e no México, de 1,05 milhão, em investimento de US$ 2,5 bilhões.

Mais pulverizado que o mercado de polipropileno – que agora conta nos EUA com 10 produtores após a compra dos ativos da Dow -, há várias fábricas americanas de PE em operação nas mãos de vários grupos e muitas dessas unidades estão desativadas, sobretudo, após a crise de 2008. São justamente essas unidades paralisadas que interessam à Braskem. "Há muitos sites antigos nos EUA, com acesso estratégico a ferrovias e hidrovias e com licenças de operação", afirmou.

O namoro da Braskem com o mercado americano é bem antigo. "Olhamos os EUA desde 2005", disse o executivo. Em 2009, os ativos da Dow estiveram na mesa da Braskem, mas a petroquímica nacional fechou no início de 2010 a compra de três unidades da Sunoco, marcando sua estreia nos EUA. As negociações com a Dow retomaram no início deste ano. Os US$ 323 milhões serão pagos com recursos em caixa da Braskem. Se tivessem que construir duas fábricas de PP do zero ("greenfield"), os desembolsos da petroquímica ficariam entre US$ 1 bilhão e US$ 1,2 bilhão. Fadigas lembra, ainda, que o negócio é bem maior, uma vez que inclui toda a carteira de cliente da companhia.

As operações americanas da Dow estão em Freeport e Seadrift, no Texas, e juntas têm capacidade anual de produção de 505 mil toneladas, o que representa um aumento de 50% na capacidade de produção de PP da Braskem nesse país, para 1,425 milhão de toneladas anuais. As outras fábricas da Braskem, que pertenciam à Sunoco, também estão próximas ao Texas, o que dá uma sinergia de cerca de US$ 140 milhões ao negócio.

Segundo Fadigas, a Braskem não tem interesse, neste primeiro momento, de fazer aquisições na Europa. Com as duas unidades adquiridas da Dow na Alemanha, localizadas em Wesseling e Shckopau, com capacidade anual de 545 mil toneladas, a Braskem vai sentir o mercado de resinas europeu. "Será nossa curva de aprendizagem."

Desde o início do ano passado, a Braskem mais do que dobrou de tamanho somente com aquisições – os negócios incluem a Dow, Sunoco e Quattor, sendo as duas últimas em 2010. A produção de resinas da companhia totaliza 7,5 milhões de toneladas, saindo da 8ª posição global para ficar entre as cinco maiores do mundo.

Apesar dos negócios fechados fora do Brasil, Fadigas garante que os investimentos da companhia deverão se concentrar no Brasil. A empresa deve definir um investimento em acrilatos no polo de Camaçari (BA) nos próximos meses e as novas plantas de resina verde. O grupo está investindo cerca de R$ 1 bilhão em Alagoas em uma fábrica de PVC e de butadieno (matéria-prima para borracha) no Rio Grande do Sul, em torno de R$ 300 milhões.

(Mônica Scaramuzzo | Valor)
 

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