Ágio da Agre vai afetar resultado futuro da PDG

O ágio decorrente da compra, em 2010, da Agre pela PDG Realty e os estouros de orçamento ainda terão impactos nos resultados da companhia. A PDG registrou ágio de R$ 417,8 milhões, com a conclusão do processo contábil de integração com a Agre, e reconheceu, no custo, R$ 43,8 milhões. Outros R$ 60,8 milhões serão reconhecidos em 2012 e 2013, metade em cada ano. Depois de 2013, serão reconhecidos mais R$ 111 milhões.

Nem todo o ágio foi reconhecido porque parte dos lançamentos referentes a projetos originados da Agre ainda não foi realizada e, na parcela lançada, o reconhecimento depende do porcentual já executado das obras.
 
Do ágio total de R$ 417,8 milhões, R$ 214,5 milhões se referem a lucros estimados em terrenos (R$ 109,767 milhões) e imóveis em construção (R$ 104,719 milhões). Entre as áreas sobre as quais incorreu o ágio, está o terreno que pertenceu à Telefônica, na zona Oeste de São Paulo, em que será desenvolvido o projeto "Jardim das Perdizes", no qual a PDG tem 25%. Os R$ 202,96 milhões restantes dizem respeito à expectativa de rentabilidade futura (goodwill). Na rentabilidade futura, foram incluídos o valor da gerência da Agre, a marca e a participação de mercado.

Os R$ 43,8 milhões de ágio reconhecidos no custo contribuíram para que a empresa tivesse prejuízo líquido de R$ 20,377 milhões no quarto trimestre e para a redução do patrimônio líquido. A PDG encerrou o quarto trimestre com patrimônio líquido de R$ 6,42 bilhões ante R$ 6,66 bilhões no terceiro trimestre. A maior parte dessa diminuição deveu-se à provisão para pagamento de dividendos.
 
Os resultados do quarto trimestre foram impactados também por R$ 222,15 milhões de revisão de orçamentos de algumas obras terceirizadas, que tiveram efeito negativo de R$ 139,774 milhões na receita líquida. "Começaram a vir demandas adicionais de recursos por terceiros, e resolvemos fazer reorçamentos", contou o vice-presidente de relações com investidores, Michel Wurman. Os orçamentos acima dos previstos foram percebidos no fim do terceiro trimestre e no quarto trimestre de 2011.

Segundo Wurman, o desvio de orçamento apresentado é a melhor estimativa que companhia possui. "O que pode haver a mais de pressão é se o custo descolar muito do INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), mas esta é a melhor estimativa ”dentro de casa”", disse. Até a entrega das chaves, o reajuste das parcelas pagas pelos clientes é feito por meio do INCC.
 
A participação de terceiros nas obras tem sido reduzida, principalmente nos projetos da Agre. "Na Agre, um ano atrás, 60% das obras estavam com terceiros e, agora, essa parcela deve estar em 20%", comparou o vice-presidente. Segundo Wurman, 90% das obras totais devem ser gerenciadas, internamente, até o fim do ano.
 
Os estouros de orçamento ainda terão impacto nas margens da PDG até que todos os projetos nos quais houve revisão de orçamento sejam concluídos. No quarto trimestre, a margem bruta da PDG foi de 18,5%, ante 28,2% no mesmo período de 2010. A margem bruta antes dos impactos de revisão de orçamento foi de 24,5%.
 
Segundo Wurman, à medida que os projetos antigos da Agre, com rentabilidade menor, forem entregues, as margens da PDG Realty deverão melhorar, até o fim do ano. Praticamente todos esses projetos antigos, que respondem por parcela de 35% a 40% da composição das margens, serão entregues no primeiro semestre, conforme o executivo. Os projetos antigos têm rentabilidade de 20% a 24%. A perspectiva de melhora baseia-se também na redução da participação de terceiros nas obras.
 
Em linha com o discurso do setor, a PDG privilegiará, em 2012, geração de caixa a crescimento. A companhia anunciou que vai lançar de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões neste ano, ante os R$ 9,01 bilhões de 2011. A projeção anterior ia de R$ 9 bilhões a R$ 11 bilhões. A companhia ainda deve consumir caixa operacional no primeiro trimestre, e ser geradora no ano. Os repasses dos clientes para os bancos serão o principal fator para a geração de caixa em 2012, o presidente da companhia, Zeca Grabowsky. A PDG estima repassar clientes de 27 mil unidades para bancos e que oito mil façam a quitação ao receber as chaves.

A companhia divulgou seus resultados não auditados no fim da noite de ontem. A PDG tem a expectativa de reportar os dados auditados até o fim da semana, segundo Grabowsky. Mesmo sem os números auditados, a PDG decidiu realizar ontem a teleconferência prevista com analistas e investidores, em função das expectativas e dos boatos a respeito da companhia, de acordo com o executivo.

A publicação dos resultados foi dificultada, segundo ele, pela implementação do SAP na Agre. "Independentemente das viradas de noite da equipe da PDG, em conjunto com a auditoria, não conseguimos terminar a tempo", disse. A Agre foi a última unidade de negócios da PDG integrada no sistema SAP. O alinhamento da gestão das subsidiárias começou em 2011.

Durante a teleconferência, Grabowsky afirmou que continuará na presidência da PDG. "Decidimos não realizar a transição neste momento. Vamos tratar desse assunto no momento mais apropriado", disse. Ele ressaltou que "há muita coisa acontecendo" na PDG no momento. Quando os resultados auditados do quarto trimestre de 2011 forem divulgados, a companhia vai apresentar também a chapa para o conselho de administração. "A ideia é ter reforço para melhorar a governança corporativa. Vamos incluir dois membros independentes", disse o executivo.

Recentemente, administradores da PDG fizeram derivativos (contratos de opções) para proteger de possível queda as ações que recebem como parte de sua remuneração. Conforme o presidente da companhia, em função da "reverberação" da operação, a PDG decidiu não permitir novas negociações de derivativos, o que será avaliado em reunião do conselho de administração.

(Chiara Quintão | Valor)

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