Dafiti, os ‘gringos’ que vendem moda pela internet no Brasil

Três estrangeiros e um brasileiro que morava no exterior se mudam para o Brasil no fim do ano passado com uma missão: criar o maior portal de e-commerce de moda do País. A empresa não tinha nome, nem endereço, mas um orçamento inicial de R$ 35 milhões, recursos da incubadora alemã Rocket Internet. Sem escritório, eles começaram a trabalhar no projeto em um quarto de hotel de 20 metros quadrados. O site entrou no ar em janeiro, batizado de Dafiti. Menos de um ano depois, a missão já foi cumprida. A recém-nascida Dafiti é a maior varejista online brasileira de moda, com uma oferta de cerca de 25 mil produtos de 250 marcas.

Mas por que esses jovens com idades entre 28 e 31 anos decidiram empreender no Brasil? O alemão Malte Huffman e o brasileiro Phillipp Povel queriam repetir no País a experiência que tiveram ao lançar em 2009 outra empresa de e-commerce de moda na Alemanha, a MyBrands. A companhia foi vendida um ano depois para a Zalando, a líder no varejo online de moda na Europa, que tem como acionista a Rocket Internet. Interessados em empreender novamente, Povel e Huffman convidaram a Rocket para ser sua investidora na criação de uma varejista de moda no Brasil.

A incubadora gostou da ideia e chamou mais dois sócios para participar do projeto, o francês Thibaud Lecuyer e o alemão Malte Horeyseck. “Recebi o convite e mudei para o Brasil em três dias”, diz Horeyseck. Além de um currículo caprichado, com formação em universidades como a americana Harvard, a francesa Insead e as alemãs Münster e Cologne e experiência em empresas como JPMorgan e Siemens, esses jovens compartilham o desejo de empreender e a paixão pelo Brasil.

Aos poucos, eles descobriram que montar uma pontocom de moda no Brasil é um desafio diferente de lançar uma empresa do segmento na Europa. “O mercado aqui é menos maduro. Muitos clientes da Dafiti compram pela internet pela primeira vez”, diz Huffman. Essa constatação contribuiu para que os administradores da empresa criassem uma espécie de fixação pelo prazo de entrega.

“Se uma pessoa que nunca comprou pela internet tiver que esperar duas semanas para receber um sapato, ela não comprará online mais. Vai preferir ir ao shopping”, diz Lecuyer. A decisão de comprar na internet é, acima de tudo, uma questão de conveniência, conclui.

Para agilizar a entrega, a Dafiti tem estoque próprio e não trabalha com consignação. A varejista também não quer depender de empresas de logística para fazer a entrega. Em 2012, ela vai criar uma transportadora própria para atender a região metropolitana de São Paulo.

Testando

O início do projeto é marcado por uma sucessão de testes, de marcas ao layout do site. O próprio nome Dafiti passou primeiro por uma pesquisa de opinião com consumidores. “Queríamos um nome neutro, para preencher de significado, como Google e Yahoo. Mas que tivesse uma boa aceitação”, diz Horeyseck.

Também foi a partir de testes que os empreendedores descobriram, por exemplo, uma precisão maior nas cores das imagens diminui significativamente o número de devoluções. E que as brasileiras preferem visualizar os produtos no corpo de modelos. Por isso, o atual escritório, uma casa no bairro Jardins, precisou contemplar um estúdio para tirar fotos de modelos com os produtos à venda. “No exterior, as mulheres olham a foto de uma bolsa e compram. No Brasil, elas querem ver como a bolsa fica no corpo”, diz Lecuyer.

A partir do resultado de inúmeros testes, o plano de negócios original da Dafiti foi alterado cinco vezes em sete meses. A empresa não previa, por exemplo, vender roupas, mas enxergou oportunidades além do segmento de calçados. Hoje, as roupas representam 10% das vendas, mas devem chegar a 30% até o fim do ano.

Para lançar a coleção de verão, a Dafiti planeja uma campanha de marketing nos principais meios de comunicação. A meta é dobrar até o fim do ano o número de acessos do site, de seis milhões de visitantes únicos por mês.

(Marina Gazzoni l iG)

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