Kirin agora tem 100% da Schincariol

Depois de enfrentar três meses de negociação e briga nos tribunais, a Kirin concluiu ontem a compra de 100% da Schincariol. A multinacional japonesa pagou R$ 2,35 bilhões para ter 49,55% da Schincariol que estava nas mãos da Jadangil, a empresa dos minoritários. O negócio foi assinado no fim da tarde de ontem em Itu (SP), sede da Schincariol, e acompanhado por telefone pelo comando da Kirin em Tóquio.

Participaram da reunião os irmãos José Augusto, Daniela e Gilberto Schincariol Júnior, acionistas da Jadangil, os advogados dos escritórios Mattos Filho e TozziniFreire, que representam a Aleadri (dos ex-acionistas majoritários Alexandre e Adriano Schincariol) e a Kirin, respectivamente. O escritório que acompanhava a Jadangil, Teixeira Martins Advogados, foi afastado na última hora e trocado por Cláudio Zalaf Advogados Associados, de Limeira (SP).

Entraram no acordo alguns imóveis não operacionais do grupo, carros e um avião, cuja soma é inferior a R$ 50 milhões. Há um mês, antes do julgamento da liminar que impedia a Kirin de assumir a Schincariol, a oferta para os minoritários estava em R$ 2,6 bilhões. Mas os acionistas da Jadangil decidiram fazer novas exigências e a negociação minguou. Depois de terem perdido a liminar, os minoritários fecharam um preço 10% inferior pela sua participação.

"Eles perceberam que seriam engolidos pelos japoneses caso continuassem no negócio", diz uma fonte que acompanhou as negociações. Outra fonte diz que, na retomada das conversas, após o julgamento da liminar, em 11 de outubro, os minoritários tentaram voltar ao patamar de R$ 2,6 bilhões. "Disseram que, se fosse por aquele valor, fechariam na hora", disse a fonte.

Gilberto Schincariol, que era vice-presidente comercial, assinou ontem a carta de renúncia. A sua posição será temporariamente acumulada pelo primo Adriano Schincariol, que continua na presidência da cervejaria até janeiro. A Kirin ainda não decidiu se vai entregar o comando da Schincariol a um executivo da casa ou se vai contratar alguém no mercado.

Adquirir 100% da Schincariol sempre foi a vontade dos japoneses. Com o mercado de cerveja mais fraco nas economias mais maduras, os players globais voltam os olhos para os mercados em desenvolvimento.

No início de agosto, a Kirin pagou R$ 3,95 bilhões para comprar a Aleadri, controladora da Schincariol. Mas a múlti foi impedida de assumir a empresa devido à liminar obtida pela Jadangil na 1ª Vara Cível de Itu. À época, os minoritários alegavam que tinham o direito de preferência para compras o controle, mas nunca apresentaram garantias para exercê-lo. No momento em que comprou a Aleadri, a Kirin sondou a Jadangil e ofereceu R$ 2 bilhões. Com a liminar, a proposta atingiu o pico de R$ 2,6 bilhões, mas recuou para R$ 2,35 bilhões no preço final.

"Na época da primeira proposta, a Kirin vivia uma situação de estresse, havia muita pressão pelo fato de ser uma companhia aberta", diz Pedro Seraphim, sócio de TozziniFreire na área de fusões e aquisições, que conduziu a negociação com a Jadangil. "Eles [japoneses] entraram na operação sabendo que poderiam enfrentar esse tipo de dificuldade [na negociação com os primos], mas as coisas se complicaram depois que os minoritários conseguiram a liminar", diz Seraphim.

Hoje acontece em Itu uma assembleia geral extraordinária da Schincariol, para definir os novos administradores das holdings Schincariol Participações e AAJDG Participações. No organograma do Grupo Schincariol, essas holdings estão abaixo da Aleadri e da Jadangil e controlam todas as 17 empresas do grupo (fábricas, empresas de logística, de transportes, de propaganda, de franquias, entre outras). As holdings eram administradas por Adriano e Alexandre (ex-Aleadri), e os primos deles, José Augusto e Gilberto (ex-Jadangil).

Agora, a Kirin vai empossar como diretores o advogado Pedro Seraphim, o executivo Ryosuke Okahashi, vice-presidente da Tozan (fabricante de saquê e outros produtos japoneses, que pertence à Kirin) e mais dois executivos japoneses, que ainda estão obtendo o visto de permanência no país.

(Daniele Madureira | Valor)

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