Sr. Armínio Fraga e seus novos negócios

A entrada da Gávea Investimentos, gestora de recursos fundada pelo ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga, engana os visitantes. Localizada em um sofisticado, mas discreto, edifício comercial no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, a empresa não é a única ocupante do prédio. Não há vistosas placas na porta. As instalações não poderiam ser chamadas de espartanas, mas é por pouco. No entanto, é a partir das discretas acomodações cariocas, e de um escritório em São Paulo, que os 140 profissionais da Gávea administram um patrimônio de quase US$ 7 bilhões (R$ 13,5 bilhões), o que coloca a empresa entre as dez maiores gestoras de recursos do Brasil que não estão vinculadas a bancos com rede de agências.

O crescimento tem sido discreto. No entanto, no que depender de Fraga, os números em breve serão mais vistosos. A Gávea, que começou como uma gestora de fundos multimercados sofisticados em 2004 e que, três anos mais tarde, iniciou sua trajetória como um dos mais bem-sucedidos fundos de private equity do Brasil, está se preparando para avançar em dois mercados, o de investimentos imobiliários e o de dívida de empresas. “Detectamos excelentes oportunidades nesses dois segmentos”, diz Fraga à DINHEIRO. Econômico, ele não comenta muitos dos detalhes dos novos negócios. Para desenvolvê-los, porém, Fraga recrutou algumas feras do mercado.

No caso do financiamento das empresas, a tarefa de montar fundos dedicados à compra de dívidas corporativas está a cargo de José Berenguer, ex-vice-presidente do Banco Santander encarregado da tesouraria e do varejo. “Nosso alvo preferencial nessa atividade são boas empresas, com negócios sustentáveis em termos financeiros, mas que estejam passando temporariamente por restrições de caixa”, diz Fraga. Segundo ele, o cenário global para o crédito mudou. Apesar da liquidez elevada, avalia, o capital para empresas está mais escasso do que no passado e deverá ficar ainda mais escasso, especialmente quando se fala em prazos mais longos.

“Isso abre oportunidades para quem tiver fôlego para financiar empresas, que vão ganhar por obterem recursos com prazos maiores e custos menores.” O fornecimento de recursos às empresas será realizado por meio de um fundo, que está em fase de registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em período de silêncio, Berenguer não deu entrevista. A estratégia de investimentos no setor imobiliário ainda está sendo definida. “Podemos tanto investir em projetos quanto adquirir boas propriedades para obter renda, e não descartamos a hipótese de fazer algumas dessas compras fora do Brasil”, afirma Fraga. O executivo contratado para gerir esse segmento é Rossano Nonino.
 
Ex-diretor da empresa de investimentos Brazilian Capital, comprada pelo BTG Pactual em 2011, Nonino soube aproveitar as oportunidades imobiliárias dos últimos anos. Sua equipe surfou nos borbotões de liquidez anteriores à crise de 2008 para captar R$ 800 milhões em capital e, em seguida, comprar imóveis desvalorizados pela falta de compradores. Entre 2008 e 2010, adquiriu pouco mais de 82 mil metros quadrados de edifícios corporativos de alto padrão em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Campinas. O fundo rendeu 73,8% desde o fim de 2010, ante uma variação de 20% dos juros de mercado. Embora não comente esse desempenho, Fraga diz estar otimista com o mercado como um todo.
 
“Apesar de toda a alta dos últimos tempos, ainda podemos encontrar boas oportunidades de retorno”, avalia. Essas novas atividades não deverão conflitar com os negócios mais tradicionais da gestão de fundos, que têm a participação do economista Edward Amadeo e dos investimentos em private equity. O primeiro fundo de participações em empresas, que captou US$ 350 milhões, foi lançado em 2006 e registrou vários acertos – como o investimento na Arcos Dorados, que possui 1.880 lojas do McDonald’s na América Latina e Caribe, e na empresa de shopping centers Alliansce – e até agora única derrapada do fundo, o investimento na empresa aérea BRA.

Os demais fundos, que somam US$ 4,1 bilhões, investem em participações minoritárias em empresas que vão do setor petrolífero aos laboratórios farmacêuticos, passando pelo varejo e pelos alimentos. Além do próprio Armínio e de seu primo Luiz Fraga, essa atividade tem a participação do economista Amaury Bier, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda e atual CEO da Gávea. As empresas que o fundo procura para investir estão nos setores mais promissores da economia – aquelas voltadas para o mercado interno, para o agronegócio e para a infraestrutura, e a participação na gestão é indireta, um paralelo com a estratégia da Berkshire Hathaway, do megainvestidor americano Warren Buffett.
 
 
“Procuramos companhias bem geridas, onde haja uma convergência da nossa filosofia com a dos gestores e uma boa interlocução com os controladores”, diz Bier. Segundo ele, o fato de a Gávea ter se dedicado a comprar participações minoritárias facilitou muito o processo. “Aumentou bastante o escopo das empresas que poderiam receber investimentos e barateou a entrada, por não termos de pagar o prêmio pelo controle”, diz Bier. Um bom exemplo dessa estratégia foi o da empresa de alimentos gaúcha Camil. O fundo mais recente da Gávea comprou 31,75% das ações em outubro de 2011, por um valor não revelado. “É uma empresa bem gerida, com uma marca forte, e que poderia ganhar com uma injeção de capital e com um avanço no processo de governança”, diz o CEO.
 

Todas essas iniciativas estão ancoradas em uma sólida convicção de Fraga: a economia brasileira ainda tem muito espaço para crescer. “O crescimento do mercado interno ainda vai render muitos bons negócios”, diz ele. Seu otimismo é reforçado pelo congestionamento que vê da janela de seu escritório. O trânsito do Leblon piorou significativamente desde o início de dezembro, devido às obras do metrô. Essa estação foi iniciada por um governador e será inaugurada por outro. “No Brasil de 20 anos atrás, nenhum governante começaria uma obra que não conseguiria inaugurar. Isso é uma prova de que o País está mais maduro em termos institucionais”, diz Fraga.

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