Novo aporte na B2W pode ser inevitável

Em mais um relatório de resultados apresentado ontem pela B2W, a empresa de comércio eletrônico fechou outro trimestre com desempenho ruim, na avaliação dos especialistas. O alerta principal dos analistas, sobre os números do primeiro trimestre, foram os riscos que a B2W corre a curto prazo, com a piora do cenário de competição no setor. A companhia pode ter dificuldade de manter investimentos, cruciais para a operação hoje, se não voltar a gerar caixa, dizem os analistas.
 
Os comandos da B2W (Americanas.com, Submarino e ShopTime) e da controladora Lojas Americanas foram questionados ontem sobre a necessidade de novos aportes de capital na B2W ainda em 2012. Boa parte da soma aplicada no último aumento de capital já foi perdida. Essa operação foi homologada em junho de 2011 no valor de R$ 1 bilhão e o valor foi subscrito pela Lojas Americanas e investidores, com intuito de melhorar a estrutura de capital da B2W. Concluiu-se a emissão de 46,253 milhões de ações, ao preço de R$ 21,62 cada. O papel fechou ontem em R$ 7,25 – perda de 66% (2/3) sobre os R$ 21,62.
 
"O que se quer saber é isso do ”cash burn”. Pelas minhas contas, vocês precisariam de mais capital até o final de ano (…) Não seria preciso recorrer a um aporte se a empresa quiser se manter agressiva neste Natal?", questionou Andrea Teixeira, analista do JP Morgan, em teleconferência da B2W. "Quando a B2W vai ter um turnround e deve vir um aumento de capital?", também perguntou à diretoria da Lojas Americanas o analista Gustavo Oliveira, do UBS Investimentos.
 
"Em relação às questões de aporte, de colocar dinheiro na B2W, a empresa vai fazer tudo o que for necessário e vai informar o mercado sobre isso dentro das regras do mercado de capital aberto no país", respondeu Murilo Correa, diretor de relações com investidores da Lojas Americanas. A B2W "vai continuar operando a questão financeira em função de necessidades de caixa dos próximos meses e anos", explicou também, ao ser questionado, François Pierre Bloquiau, diretor de relações com os investidores da B2W.
 
Um cálculo já é possível de ser feito, após a apresentação de resultados de B2W ontem e de sua rival Nova Pontocom, na terça-feira – e que reforça as preocupações dos especialistas em relação à empresa. A Nova Pontocom (que reúne os sites de Casas Bahia, Ponto Frio e Extra) somou receita líquida de R$ 811,6 milhões de janeiro a março, alta de 17% sobre 2011. Na B2W, essa receita foi de R$ 1 bilhão, encolhendo 2,7%. As duas concorrentes nunca estiveram tão próximas – a diferença de receita entre ambas atingiu R$ 190 milhões de janeiro a março. No primeiro trimestre de 2011, essa diferença era de R$ 336 milhões.
 
De janeiro a março deste ano, a B2W teve prejuízo de R$ 42,8 milhões ante resultado negativo de R$ 1,6 milhão do mesmo período do ano passado. Houve queda de 2,7% na receita líquida, para R$ 1 bilhão, e as despesas operacionais totalizaram R$ 202,6 milhões, alta de 1,4%. Com isso, o Ebit (lucro antes de juros e impostos) recuou 61,8%, para R$ 36,4 milhões.Para a equipe de análise do Itaú BBA, foi mais um período de desempenho de vendas "terrível" para a empresa "apesar dos [problemas] logísticos terem se estabilizado". O BTG Pactual diz que a "concorrência feroz do setor deixa menos claro, menos visível o período para uma retomada nas vendas e no lucro".
 
Bancos e corretoras comentam também, em suas análises, o esforço da empresa em fazer o negócio voltar aos eixos. A empresa informou ontem melhorias no nível de reclamação de clientes neste ano. "Os avanços no nível de serviços são um passo importante para a retomada do crescimento de vendas e conseqüente alta nas margens", informa relatório do BTG.
 
No caso das Lojas Americanas, como já tem ocorrido, o resultado de B2W afetou o consolidado do grupo no trimestre. Em termos de desempenho da controladora, os números foram positivos e bem avaliados pelo mercado. De janeiro a março, a receita líquida da rede subiu 18%, para R$ 1,45 bilhão. O Ebitda da varejista foi de R$ 211 milhões, alta de 31%. A margem Ebitda foi de 14,6%, 1,5 ponto percentual acima da apresentada no mesmo período de 2011.
 
A empresa reforçou ainda que deve manter ritmo de abertura de lojas previsto para 2012, apesar de uma abertura de pontos mais tímida de janeiro a março. Foram abertas 11 lojas nesse intervalo, e 80 novos pontos tem contrato fechado ou são terrenos em negociação para abertura em 2012. No entanto, a previsão do ano é inaugurar de 110 a 120 unidades. "Nós mantemos essa previsão", disse Correa aos analistas.

(Adriana Mattos | Valor)
 

+ posts

Share this post