O que o Pão de Açúcar já pode fazer para unir a Casas Bahia e Ponto Frio

O acordo firmado com o Cade não impede que o Grupo Pão de Açúcar continue o trabalho de fusão da Casas Bahia com o Ponto Frio. Ao contrário do congelamento total da operação, determinado pela autarquia para a fusão da Sadia com a Perdigão – e, posteriormente, abrandado -, as restrições do acordo provisório de preservação da reversibilidade (Apro) impostas neste caso são bem mais leves. As medidas concentram-se na preservação das marcas e do número de lojas, bem como da estrutura comercial e de crédito de cada rede varejista. Elas não impedem, por exemplo, que a transferência de ativos para a “Nova Casas Bahia” continue, nem que a administração das companhias comece a se fundir. “Não houve congelamento, apenas algumas restrições”, afirma um representante das empresas.

Quando anunciou a fusão, o Pão de Açúcar informou que o primeiro passo será criar uma “Nova Casas Bahia”, que receberia parte dos ativos da antiga rede, como lojas e carteira de crédito. Ficarão com a “Velha Casas Bahia”, os imóveis ocupados pelos pontos-de-venda, alguns recebíveis, a participação dos Klein na fábrica de móveis Bartira e outros bens. A segunda fase seria fundir a “Nova Casas Bahia” com a Globex, empresa que controla o Ponto Frio e que foi comprada pelo Pão de Açúcar em junho do ano passado. No final, o Grupo Pão de Açúcar deterá 51% da rede varejista resultante da fusão, e a família Klein, os outros 49%. Essa operação de transferência de ativos está liberada pelo acordo com o Cade.

Outro passo que a empresa poderá dar é a fusão das estruturas administrativas, operacional e de marketing – embora o Cade tenha determinado que as campanhas publicitárias sejam feitas separadamente para cada marca. Na prática, isso libera os executivos para assumirem os postos já anunciados. Raphael Klein, 32 anos e filho de Michel, deve ocupar a presidência executiva da nova rede. E seu pai, o comando do conselho de administração.

O acordo com o Cade determina que as marcas Casas Bahia e Ponto Frio, sejam mantidas até o julgamento do processo – o que pode demorar um ano. O importante, aqui, é que o documento não menciona a marca Extra Eletro, a bandeira do Pão de Açúcar para eletroeletrônicos. Na prática, isso libera o grupo para extinguir a marca, que hoje conta com 47 lojas em todo o país. “O Cade entendeu que o Extra Eletro não tem um peso determinante na fusão”, diz um representante das empresas.

Como o acordo com o Cade determina que o número de lojas seja mantido, o que o Pão de Açúcar pode fazer, agora, é converter as lojas do Extra Eletro para a bandeira Casas Bahia ou Ponto Frio – o que for mais estratégico na região em que a unidade estiver implantada.

Mesmo a manutenção do número de lojas não é uma medida rígida. As 1.010 lojas da nova companhia estão presentes em 327 municípios brasileiros, mas em apenas 146 ocorre sobreposição, isto é, há tanto lojas da Casas Bahia, quanto do Ponto Frio. O que o Cade determinou é que os pontos-de-venda não sejam fechados nestas 146 cidades. No resto do país, o Pão de Açúcar está livre para prosseguir com seus projetos. Além disso, mesmo nos municípios sujeitos a essa restrição, o grupo poderá cortar unidades, desde que receba aprovação prévia da autarquia.

O ponto central do Cade, neste acordo, é que a reversibilidade da fusão depende de três coisas: a) preservação das marcas; b) preservação do número de lojas; e c) conservação de estruturas comerciais independentes. Isso significa que, por ora, o Ponto Frio e a Casas Bahia deverão manter departamentos de compras separados, com diretores, funcionários e contratos de fornecimento segregados. Mas isso não quer dizer que eles não possam negociar em conjunto, por exemplo, a fim de conseguir melhores condições por demandarem lotes maiores de produtos. É a mesma concessão que o Cade fez, recentemente, à Sadia, e à Perdigão, que agora podem comprar matérias-primas juntas.

Preservar a estrutura de compras é importante, segundo o Cade, porque o conhecimento dos fornecedores e a capacidade de negociação das redes é fundamental para o sucesso de um varejista. Se, no futuro, a autarquia determinar a venda do Ponto Frio – mesmo que seja de apenas uma parte da rede -, o futuro controlador receberá uma companhia que manteve essas expertises.

Na ponta do consumidor final, o Cade também determinou que a política de concessão de crédito seja preservada. No momento em que os grandes varejistas estudam tornarem-se autocredenciados para emitir e processar seus próprios cartões de crédito, essa medida impede, por exemplo, que a Casas Bahia e o Ponto Frio contem com um único cartão co-branded.

De qualquer modo, a avaliação das empresas é de que a decisão do Cade não é proibitiva, e sim restritiva. Mesmo que o processo demore para ser julgado pelos conselheiros, há um grande espaço para que a fusão das duas maiores redes de varejo do país prossiga. “A decisão do Cade foi bastante positiva e dá margem para que o trabalho continue”, diz um representante das empresas. O acordo parece não ter agradado o mercado, contudo. Por volta das 16h, as ações preferenciais do Pão de Açúcar (PCAR5, sem direito a voto) operavam em queda de 1,81% na Bovespa e eram cotadas a 64,11 reais. No mesmo instante, o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, recuava 0,21%, aos 67.022 pontos.

(Portal Exame)

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