(Giana Araújo | Coordenadora de Análise Estratégia)
A avaliação não é uma profissão formalmente estabelecida. Essa situação não ocorre apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Uma gama muito variada de profissionais, com as mais diferentes formações, atua nessa área, e estamos convencidos de que há uma necessidade disso ser regulamentado, como a definição de habilidades e formação mínimas para atuação nessa área. Internacionalmente, a profissionalização do avaliador é uma tendência e está sendo desenvolvida pelo conselho mundial que padroniza as práticas de avaliação, o International Valuation Standards Council – IVSC.
Desde a crise econômica de 2008, o G-20 tem um papel fundamental na coordenação e tomada de providências para a minimização dos efeitos da crise. Dentre as providências que visam a uma garantia maior de estabilidade econômica mundial está a criação, em 2011, de uma Força Tarefa, composta pelos grandes órgãos de contabilidade internacionais como o International Federation of Accountants (IFAC), CFA Institute (CFA I), Institute of International Finance (IIF), International Accounting Standards Board (IASB), International Valuation Standards Council (IVSC), entre outros. Várias metas foram traçadas e podem ser consultadas no relatório de abril de 2012 . Dentre estas metas, destacamos a continuação do foco na convergência contábil mundial e um maior controle sobre as práticas de avaliação nos países que não tem regulamentação na área, como o Brasil.
Nos Estados Unidos e na Europa existem muitas organizações e associações de avaliação, algumas seculares como a ASA – American Society of Appraisers, de 1936, e o RICS – Royal Institute of Chartered Surveyors, de 1868. Estas associações agem principalmente em três frentes: especialização técnica dos membros associados, normalização das práticas de avaliação e suporte na promoção da ética profissional. No Brasil, temos a avaliação e perícias ligadas à engenharia, com práticas regulamentadas pelo IBAPE, que está implementando um processo interno de certificação, mas a área de avaliação de empresas está atualmente sendo praticada de um modo mais ou menos alinhado com as práticas internacionais dentro de multinacionais, um grupo conhecido como as “Big Four”, ou “Big Six”, e algumas empresas independentes como a Apsis, que são reconhecidas no mercado.
No Brasil, a diretoria de avaliações da Associação Nacional de Executivos em Finanças, Administração e Contabilidade (ANEFAC) criou em 2011 o Comitê Brasileiro de Avaliadores de Negócios, com o objetivo de avançar nessa organização. Desde então, tem feito intercâmbios com diversas organizações internacionais de avaliação, com diversas frentes:
1) Trazer cursos de aperfeiçoamento técnico, como o curso de Avaliação de Ativos Intangíveis do International Institute of Business Valuation (IIBV), recomendado pelo próprio IVSC, fruto de uma parceria entre a ASA e o CICBV, um instituto canadense de avaliação de negócios. Outro curso trazido no final de 2012 foi o do International Association of Consultants, Valuators and Analysts (IACVA), instituição que se interessou em montar um capítulo no Brasil e com a qual firmou-se uma parceria.
2) Opinar sobre assuntos técnicos nas consultas internacionais sobre as normas que estão sendo desenvolvidas. Respondemos a diversas consultas, inclusive para o relatório da Força Tarefa mencionada, bem como sobre Fairness Opinion e, mais recentemente, sobre avaliação em Derivativos de Equity.
3) Desenvolver com os especialistas interessados diretrizes e condutas para que as práticas nacionais estejam alinhadas com as internacionais. Existem duas orientações e uma diretriz técnica sobre práticas no cálculo do Fluxo de Caixa Descontado publicados no blog e pelo menos mais três diretrizes a serem publicadas para consulta, sobre Valor Justo, Ativos Intangíveis e Instrumentos Financeiros.
Após o intercâmbio com o IACVA ao final de 2012, foi definido mais um passo em direção a um maior controle sobre as práticas internacionais de avaliação no Brasil: a possibilidade de um processo de certificação internacional realizado no país. Caso aprovado no concurso, o candidato recebe o título de CVA – Certified Valuation Analyst. O dado mais interessante sobre esta associação é que, ao contrário da ASA, que sedia os cursos que são os mais conhecidos no mercado brasileiro, devido ao estreitamento de seu relacionamento com as “Big Four”, eles não exigem que o candidato tenha um profundo conhecimento das normas fiscais e das leis regulatórias dos Estados Unidos, mas abrem uma parte do curso preparatório dedicado inteiramente às normas e regulamentações brasileiras.
Ser um avaliador certificado significa que você realiza suas práticas dentro dos padrões definidos internacionalmente, além de ser obrigado a atuar dentro de regras éticas e ser submetido a uma educação continuada. Todos esses atributos são fiscalizados pelo charter nacional e pelo internacional. O CVA, por ser internacional, é válido em todos os locais de atuação do IACVA – atualmente, em 55 países do mundo.
A formação de um capítulo brasileiro do IACVA visa, portanto, a alinhar o Brasil com a orientação internacional para o setor de avaliação, fazendo com que o país seja visto internacionalmente como um parceiro na promoção da garantia de uma maior estabilidade econômica mundial, além de promover uma maior confiabilidade aos investidores internacionais. Os benefícios econômicos de estabelecer práticas de avaliação controladas são o complemento da unificação contábil, que garante maior transparência e comparabilidade às economias de todos os países.