Portobello e Eliane se fortalecem para enfrentar chineses

A união entre as fabricantes de revestimentos cerâmicos Portobello e Eliane possibilitará que a nova empresa seja mais competitiva globalmente e, principalmente, no mercado brasileiro, em que produtos chineses ganham cada vez mais presença. Enfrentar a concorrência dos revestimentos que chegam da China foi, justamente, uma das razões que motivaram a associação das duas empresas, conforme o presidente da Eliane, Edson Gaidzinski Jr.
 
"Barrar a entrada de produtos importados é muito pretensioso, mas vamos competir em igualdade de custos e com diferenciais de design, inovação e qualidade assegurada", conta o diretor comercial da Portobello, Mauro do Valle Pereira. O setor considera que os revestimentos cerâmicos entram no Brasil em condições desleais, em função de fatores como o câmbio na China e os subsídios do governo do gigante asiático à produção. Não se espera, portanto, que a criação de uma empresa de maior porte seja suficiente para impedir a entrada dos produtos daquele país.
 
Estimativas preliminares da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento (Anfacer) indicam que o volume importado de produtos do setor somou 38 milhões de metros quadrados em 2011, 76% acima dos 22 milhões de metros quadrados do ano anterior. A China foi o principal fornecedor externo, respondendo por 98% do total das importações brasileiras. "Para os produtos chineses, o país interessa da mesma forma que os Estados Unidos", diz o diretor superintendente da Anfacer, Antonio Carlos Kieling.

Num mercado fragmentado, Portobello e Eliane buscam o fortalecimento por meio da união e apostam na complementariedade de produtos e canais de distribuição. "A Portobello é líder no segmento premium, e a Eliane, líder nas vendas para a classe média brasileira, na exportação e no mercado imobiliário", diz Pereira, da Portobello. Enquanto Eliane é mais forte no grande varejo e no fornecimento para construtoras, Portobello tem mais de 100 lojas Portobello Shop, no formato de boutiques de produtos. A intenção é manter as duas marcas.
 
O momento vivido pelo setor de construção civil no Brasil, com volume expressivo de lançamentos imobiliários em fase de conclusão, favorece a empresa que será formada a partir de Portobello e Eliane. A Anfacer projeta aumento de 6% nas vendas domésticas de revestimentos cerâmicos em 2012, após crescimento estimado de 9% em 2011. Se confirmada a projeção, este será o melhor ano em faturamento registrado pelo setor.
 
Portobello e Eliane estimam faturamento conjunto de R$ 1,1 bilhão em 2011, com produção de 60 milhões de metros quadrados de revestimentos. A perspectiva é que, futuramente, a empresa resultante da união das duas mantenha a taxa de crescimento anual de dois dígitos apresentada por cada uma, segundo o diretor comercial da Portobello.
 
A etapa de auditorias entre as duas empresas deve ser concluída em 31 de março. Conforme o valor de cada uma, a Portobello teria 55% de participação na nova companhia e a Eliane, 45%. Em função de dívidas e outros ajustes, porém, as parcelas foram projetadas para 80% e 20%, respectivamente, podendo haver alteração após as diligências, segundo o presidente da Eliane.
 
Embora a parcela que a Portobello deterá na nova empresa será muito superior à da Eliane, Gaidzinski diz que se trata de operação de fusão e não de aquisição. "Haverá denominação de uma nova empresa. Tanto o bloco de acionistas da Portobello quanto da Eliane estarão no grupo de controle da nova empresa, na decisão conjunta de matérias qualificadas", afirma o presidente da Eliane. As empresas estão buscando, no mercado, um executivo para ocupar o cargo de presidente da nova companhia, o que deve ser definido até março. O número de membros do conselho de administração também está em definição.

(Chiara Quintão | Valor)

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