Preço e volume de transação impulsionam lucro da Cielo

A combinação de preços elevados e aumento do volume de transações com cartões de crédito e débito impulsionou o lucro da Cielo no quarto trimestre de 2011 para R$ 504,5 milhões, crescimento de 13,8% ante igual período de 2010. No acumulado do ano passado, o lucro foi de R$ 1,810 bilhão, ligeiramente inferior (1%) ao resultado de 2010. Mas uma nova dinâmica concorrencial que poderá se instaurar no mercado de pagamentos eletrônicos após o provável fechamento de capital da Redecard pelo seu controlador, o banco Itaú, sinaliza riscos à vista.
 
As despesas da Cielo, especialmente os gastos com marketing – que incluem as comissões pagas a bancos parceiros para afiliarem clientes corporativos – pressionaram a rentabilidade da empresa. A margem de geração de caixa (margem Ebitda, o lucro antes de juros, impostos, amortizações e depreciação) caiu de 64,2%, em 2010, para 56,8%, em 2011. Num cenário de maior competição, as margens da Cielo tenderiam a ficar ainda mais apertadas, especialmente se a Redecard, já incorporada pelo Itaú, partir para uma agressiva campanha de preços – reduzindo taxas como parte de um pacote integrado de serviço bancário e podendo, inclusive, oferecer gratuitamente maquininhas (POS) para estabelecimentos comerciais de pequeno porte.

Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo, diz não acreditar em guerra de preço. O executivo também sinalizou que a Cielo não acompanhará os passos da Redecard – ou seja, não vai fechar o capital da empresa. "A mensagem que gostaria de passar é que a empresa continuará a atuar da mesma forma e intensificará esforços para se diferenciar dos concorrentes", disse, em teleconferência com analistas. "Entendemos a motivação do concorrente, mas acreditamos que dá para trabalhar de forma distinta."
 
No entanto, um ambiente de competição acirrada a ser conduzido pela Redecard é o cenário mais provável na visão de analistas. Não só os preços de aluguel das maquininhas e as taxas cobradas pelas transações de crédito e débito podem ser pressionados como também a receita com operações de antecipação de recebíveis (pré-pagamento) – que no caso da Cielo tem mostrando significativa evolução desde a abertura do mercado de cartões. O volume financeiro de transações antecipadas da Cielo em 2011 totalizou R$ 15,4 bilhões, representando 7,8% do total capturado com transações de crédito. A receita bruta somou R$ 611,6 milhões no ano, crescimento de 51,8% sobre 2010.
 
Mas a Cielo pode até tirar alguma vantagem com o fechamento de capital da Redecard. O fiel da balança, no caso, seria a Caixa Econômica Federal – e em menor grau, o banco Safra – que hoje têm acordo com ambas as empresas para credenciar estabelecimentos comerciais. "A Cielo pode se tornar a credenciadora preferida da maior parte, se não de todos os demais bancos brasileiros, excluindo Itaú", afirma Paulo Ribeiro, analista do HSBC.

Questionado na teleconferência sobre como as operações de pré-pagamento poderiam ser afetadas pela concorrência da Redecard (sob a estrutura do Itaú), o presidente da Cielo ressaltou que "uma empresa não-financeira tem taxação distinta de uma financeira". Em outras palavras, a Redecard perderia a vantagem da isenção de IOF no segmento de antecipação de recebíveis. "Isso poderia ser outro aspecto positivo para a Cielo", observa Ribeiro, analista do HSBC. "A antecipação de recebíveis é o segmento de margem mais alta das credenciadoras brasileiras, em nossas estimativas. Trata-se de uma área na qual os bancos competem de forma direta com as credenciadoras, particularmente por pequenas e médias empresas."
 
Os impactos de uma eventual postura agressiva da Redecard, porém, deverão começar a ser sentidos somente no quarto trimestre de 2012, já que o processo de fechamento de capital e sua incorporação pelo Itaú levaria tempo para ser concluído. Enquanto isso, a Cielo planeja investir, neste ano, R$ 300 milhões em 2012 na compra de maquininhas.

(Aline Lima | Valor)
 

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