Renda fixa é atingida por fuga de investidores em agosto

O nervosismo do mercado financeiro nos oito primeiros dias de agosto levou os investidores a sacar R$ 5,04 bilhões de fundos de investimentos.

De acordo com último relatório diário publicado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) os resgates foram de R$ 2,57 bilhões de multimercados, R$ 1,92 bilhões de renda fixa, R$ 457,33 milhões de ações e R$ 88,64 milhões do curto prazo.

"Para um ambiente como esse, o investidor está reduzindo o apetite ao risco e buscando aplicações mais conservadoras", observou o superintendente executivo da Santander Asset Management, Eduardo Castro.

De fato, no mesmo período, a captação líquida dos fundos referenciados DI, os mais conservadores do mercado, alcançou R$ 859,15 milhões.

Mas Castro avalia que correr para o DI pós-fixado simplesmente pode não ser o melhor caminho para o investidor. "O cenário externo piorou tanto que o Banco Central (BC) pode mudar a chave para reduzir os juros", diz o superintendente do Santander.

Ele não vê motivo para o investidor sair da renda fixa. "Não há qualquer dúvida sobre o pagamento de títulos privados, como as debêntures, e esses papéis estão pagando entre 109% e 113% do CDI, e as letras financeiras (LFs) remuneram 106% e 107% do CDI", argumenta Castro.

Segundo o superintendente, num primeiro momento, as companhias que captam através desses papéis vão esperar um pouco por causa de um possível aumento das taxas. "As empresas vão tirar um pouco o pé, mas logo depois que passar o nervosismo as empresas voltam ao mercado."

De acordo com boletim de julho de Finanças Corporativas da Anbima, a emissão de debêntures em julho atingiu R$ 1,488 bilhão, ou apenas 5,14% do total de 2011 que somou R$ 28,92 bilhões.

Nos últimos dois meses, as principais emissões de debêntures foram, pela ordem: NCF Participações, com R$ 2,3 bilhões; Rio Iaco, com R$ 1,65 bilhão; Bradespar, com R$ 800 milhões em duas operações; Camargo Corrêa, com R$ 600 milhões, e VRG Linhas Aéreas, com R$ 500 milhões.

Para Castro, do Santander, o investidor pode aproveitar as taxas pagas pelos títulos privados em fundos de renda fixa ativos. "O investidor pode optar por fundos que combinem títulos privados [LFs e debêntures] com títulos públicos pré-fixados ou vinculados à inflação", disse o superintendente. "Recomendo a gestão especializada nesses momentos, e o investidor deve perseguir o horizonte de longo prazo", concluiu o executivo.

Por sua vez, o gestor de fundos de renda fixa do BB DTVM, André Abreu, diz que é muito cedo para afirmar que o mercado de renda fixa sofrerá efeito da crise. "As ações e os multimercados sentiram bastante nos últimos dias, e percebemos a entrada em fundos referenciados DI e fundos de curto prazo", avaliou Abreu.

Como sugestão ao cenário, Abreu, da BB DTVM, propôs uma combinação de 60% de títulos públicos LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) e operações compromissadas, e outros 40% com LTNs (Letras do Tesouro Nacional), debêntures, CDBs e LFs.

"As LFs aos poucos estão substituindo os CDBs, as taxas são um pouco melhores", justificou o gestor do BB DTVM.

A combinação sugerida é espelhada no fundo-mãe BB TOP RF Moderado, com R$ 28,2 bilhões de patrimônio, rendeu 7,22% até 11 de agosto, e 11,7% nos últimos doze meses, que remunera 12 diferentes fundos de renda fixa distribuídos pelo Banco do Brasil.

O Banco do Brasil DTVM administrou R$ 407 bilhões em fundos no primeiro semestre e é o líder do segmento com 22% de participação. "É um mercado muito competitivo, com players especializados em diversos produtos da indústria de fundos", concluiu André Abreu.

Entre os competidores especializados, a Fator Administração de Recursos (FAR) avalia que o mercado passa por um momento de muita volatilidade. "O investidor saiu de renda fixa e multimercados, mas pode considerar outras alternativas disponíveis no mercado", considerou a diretora da FAR, Roseli Machado.

(Ernani Fagundes l DCI)

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