Rothschild avalia Redecard em R$ 24,16 bi

O tão aguardado laudo de avaliação da Redecard, peça fundamental da oferta para fechamento de capital lançada pelo controlador Itaú Unibanco, não trouxe surpresas e o ponto médio da análise da companhia é um valor de R$ 24,16 bilhões, o equivalente a R$ 35,88 por ação.
 
A proposta lançada pelo Itaú em 7 de fevereiro é de R$ 35 por ação da controlada, empresa que faz o credenciamento de estabelecimentos que aceitam cartão e também processa as operações. O valor médio do laudo, portanto, é apenas 2,5% superior ao preço da oferta.

O estudo, divulgado na quinta-feira à noite, foi elaborado pelo banco Rothschild, escolhido somente pelos acionistas de mercado da empresa a partir de uma lista tríplice apresentada pelo Itaú, em assembleia sem a interferência do controlador.

A avaliação da Redecard pelo método de fluxo de caixa descontado – que busca um valor presente para a rentabilidade da companhia esperada para o futuro – ficou num intervalo entre R$ 23,01 bilhões (R$ 34,18 por ação) e R$ 25,31 bilhões (R$ 37,59 por ação).
 
Era grande a ansiedade em torno do documento porque a partir de sua divulgação ficará mais clara a reação do mercado à proposta do Itaú. Com base na satisfação com esse estudo, acionistas detentores de 10% do capital em circulação poderão decidir se querem ou não solicitar um novo laudo, como a Lei das Sociedades por Ações permite.

A receptividade à oferta do Itaú pela Redecard ficou dividida e há grupos que parecem estar de acordo com o valor sugerido e outros que demonstram disposição para buscar uma negociação. Como não poderia deixar de ser, o banco não deu mostras de que está disposto a conversar.
 
O documento feito pelo Rothschild custou R$ 2 milhões. O pagamento deve ser feito pelo Itaú. O valor é fixo e não está condicionado ao sucesso da operação.

Essas informações são algumas dentre os diversos esclarecimentos fornecidos pelo Rothschild. O avaliador ressalta também que as projeções utilizadas na análise não consideram sinergias ou perdas que possam resultar ou do sucesso ou do insucesso da oferta de fechamento de capital.
 
No estudo, foi feita uma análise adicional da Redecard considerando os parâmetros que o mercado utiliza para atribuir preço às ações da Cielo, concorrente direta da empresa que também é negociada na BM&FBovespa. Considerando a relação entre preço e lucro por ação esperado para a companhia, a conclusão é que as ações da Redecard valeriam R$ 37,11 para os resultados deste ano e R$ 36,13 para o lucro esperado para 2013.
 
A Redecard, originalmente uma associação para a área de cartão de Itaú, Unibanco e Citibank, é uma companhia listada no Novo Mercado desde julho de 2007, quando foi feita sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).

De lá para cá, já foram feitas três ofertas de ações da empresa. Atualmente, é controlada apenas pelo Itaú por conta da associação com o Unibanco, em 2008, que somou as participações, e pelo fato de o Citibank ter vendido toda sua fatia no negócio nas ofertas ao mercado. A Redecard é hoje a 21ª maior companhia da BM&FBovespa em valor na bolsa.
 
De acordo com o laudo do Rothschild, o preço oferecido pelo Itaú para fechar o capital da Redecard equivale a um prêmio da ordem de 14% sobre a média de negociação 30 dias antes do lançamento da oferta. Em relação a seis meses e um ano de negociação, o prêmio é de 29% e 35%, respectivamente.
 
Apesar de ser parte fundamental da transação, o estudo elaborado pelo Rothschild não faz uma análise sobre a qualidade da proposta, é apenas um balizador para preço – como sempre são os laudos desse tipo.

Mas, pela primeira vez no mercado brasileiro, um estudo mais opinativo sobre a oferta será divulgado ao mercado, com base na avaliação feita por BR Partners e Citibank.

A medida atende à regra do regulamento reformado do Novo Mercado, que passou a valer a partir de maio de 2011.

Ficou estabelecido que o conselho de administração deve se manifestar a respeito de qualquer oferta lançada para as ações da companhia e as instituições foram contratadas para auxiliar o colegiado na formação dessas opiniões.

Conforme o Valor apurou, o estudo deve ficar pronto no fim desta semana. Segundo o regulamento, o conselho deve opinar sobre a conveniência e oportunidade da oferta e em relação à liquidez dos papéis; as repercussões da oferta sobre os interesses da companhia; e os planos estratégicos do ofertante. De acordo com as regras novas, em seu parecer, o conselho deve trazer uma opinião fundamentada favorável ou contrária à aceitação da oferta.

Para conseguir fechar o capital da Redecard, o Itaú precisa que acionistas detentores de 67% do capital da empresa em circulação na bolsa aceitem sua oferta. O banco já comunicou também que pretende tirar a controlada do Novo Mercado, caso não consiga adesão mínima suficiente para cancelar seu registro de empresa aberta.

É por conta dessa decisão que o Itaú quer da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) uma dispensa para comprar as ações de todos aqueles que aceitarem vender, caso não obtenha os 67% mínimos para sair do mercado.

A regra geral da autarquia (Instrução 361) determina que, em caso de insucesso, o ofertante deve optar entre comprar apenas 33% das ações em circulação ou desistir da operação.

Essa questão é um ponto de encontro entre o regulamento do Novo Mercado e a regulação geral para ofertas que deixa algumas dúvidas. As regras do espaço diferenciado da bolsa determinam que, para tirar uma empresa desse segmento, é preciso o lançamento de uma oferta a valor econômico do negócio. Contudo, o regulamento não trata sobre adesão, como a instrução da CVM o faz.
 
Os próximos dias serão determinantes para sinalizar as chances de sucesso do Itaú. Além do preço da oferta, os acionistas da Redecard receberão mais R$ 1,10 por ação como dividendo, que não serão descontados do valor oferecido para a operação. Assim, no total, os investidores teriam direito a R$ 36,10 por ação – sendo R$ 35 pagos pelo Itaú e R$ 1,10 pela própria Redecard, o que significa que o controlador receberá também sua parcela. Na quinta-feira, os papéis da companhia fecharam o pregão em R$ 35,99.

(Graziella Valenti | Valor)

 

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