Após mudança no controle, Porcão prepara expansão

Em 2009, a rede de churrascarias Porcão e o grupo que é dono do elegante restaurante Garcia & Rodrigues, no Rio de Janeiro, enfrentaram uma batalha pela exploração da filial da churrascaria, a Rio”s, no Aterro do Flamengo, à beira da Baía de Guanabara. A disputa começou com a licitação do espaço pela prefeitura e foi parar num tribunal. Mas, como em novelas, acabou em casamento.

Em 2010, o grupo do Garcia & Rodrigues, batizado até então de Casual Dining S/A (Cadinsa), descobriu que fundos de investimentos estrangeiros detinham 49% das ações da Porcão Licenciamentos e Participações (PLP), proprietária da rede de churrascarias, e queriam vender suas participações, conta José Ricardo Tostes, um dos sócios da Cadinsa. Diante da oportunidade, entraram no negócio.

Foi um noivado forçado. A família Mocelim, que fundou a rede de churrascarias, não gostou muito da aquisição. As ações, segundo fontes ligadas ao setor, estavam nas mãos do grupo Merrill Lynch e do fundo Igrapiúna. Ainda foi necessário correr atrás de pelo menos mais 2% para adquirir o controle. A resposta estava na mão de um sócio minoritário mineiro que detinha outros 8%. Negócio fechado, a holding, agora batizada de Brasilian Food Group (BFG), ficou então com 57% da Porcão Licenciamentos e Participações (PLP) e com quatro redes de restaurantes. Além do Garcia e do Porcão, a Johnny Pepper (que já detinha) e a Galeria Gourmet (pertencente à PLP).

Um acordo entre os sócios apaziguou o início do casamento e permitiu que a nova rede traçasse planos de expansão. Mas antes era preciso arrumar a casa. A BFG contratou a consultoria Deloitte. Hélio Fiuza, presidente do grupo, diz que havia ações judiciais fiscais e trabalhistas. "O patrimônio líquido da Porcão estava negativo. A gestão não era boa", afirma. "Os registros contábeis, o inventário físico e os estoques eram uma bagunça. Não havia compra conjunta para as lojas, por exemplo".

Com dívidas equalizadas e renegociadas, a empresa faturou até junho de 2011, R$ 14 milhões a mais do que em 2010. O faturamento do ano passado não foi informado. O grupo agora parte para a expansão. Serão abertos dois novos restaurantes Galerias Gourmet, um na Barra da Tijuca e outro na Gávea. Além dos dois, já existe um terceiro no Norte Shopping, no bairro do Cachambi. O investimento nesta rede deve somar de R$ 12 milhões a R$ 15 milhões.

A Porcão ganhará uma quarta casa no Rio, no mesmo local onde está o restaurante Garcia & Rodrigues, no Leblon. Parte da loja será transformada na churrascaria. José Ricardo Tostes, um dos sócios da BFG, explica que o espaço não utilizado hoje é enorme, "há uma área do mesmo tamanho nos fundos". Mas o Garcia, queridinho da Zona Sul, não sumirá de vez, a padaria e o espaço para pequenas refeições serão mantidos.

Além disso, a Porcão planeja voltar a ter uma casa em Miami, só que desta vez própria. O grupo já teve franquias nos Estados Unidos, Portugal e Milão. Todas fecharam. O projeto de expansão prevê ainda duas casas em São Paulo, uma em Curitiba e outra em Florianópolis. O custo médio de cada uma delas é de R$ 4 milhões.

Paralelamente aos planos surgiram novos conflitos entre os sócios. Duas operações com debêntures, num total de R$ 135 milhões estão sendo questionadas pela família Mocelim. Mário Figueira, advogado da família, alega que o valor captado não foi revertido para investimentos na rede de churrascarias e que uma segunda operação societária que envolve captação de recursos e permuta de debêntures deixou a PLP sem o dinheiro e ainda com uma dívida de R$ 18 milhões. O grupo BFG confirma a operação, mas diz que ela foi realizada para capitalizar o Porcão, que tinha patrimônio líquido negativo. Com isso, o casamento está novamente abalado e de volta aos tribunais.

A briga envolve ainda outros membros da família. Hoje, a BFG tem três unidade da Porcão no Rio e uma em Belo Horizonte. Existem outras duas unidades da churrascaria, uma na Ilha, na Zona Norte do Rio, e outra no município de Niterói, que também usavam a marca Porcão porque são de propriedade de outra parte da família Mocelim. Mas uma liminar obtida pela BFG obrigou os dois restaurantes a retirarem a marca. "O departamento jurídico está analisando se temos ou não direito a elas. Enquanto não podemos administrá-las, entramos na Justiça para que não usem a marca", diz Fiuza.

(Paola de Moura | Valor)
 

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