Bradesco testa oferta de letras financeiras

O Bradesco vai testar a partir deste mês uma nova forma de captação de recursos. O banco quer vender para o público letras financeiras. O papel, que é uma espécie de debênture dos bancos, foi criado pelo governo no fim de 2009, mas até agora só estava sendo comprado por investidores de grande porte, como seguradoras e fundos de investimento, em operações privadas.

As letras do Bradesco serão distribuídas por meio de suas agências bancárias, corretora, tesouraria e banco de investimento. O alvo são investidores que possam aplicar pelo menos R$ 300 mil, o que equivale ao preço de uma letra financeira. Cada emissão pode variar entre R$ 500 milhões e R$ 2,5 bilhões.

O programa de venda contínua de letras financeiras do banco prevê o lançamento de até 13 diferentes tipos de papéis, com prazos de vencimento de três, cinco e sete anos. Esse programa permite que o banco registre na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) títulos de diversas modalidades, que serão emitidos conforme as condições de mercado.

A remuneração dos papéis poderá ser de três tipos: atrelada à variação do Depósito Interfinanceiro (DI), à inflação medida pelo IPCA mais spread ou a uma taxa pré-fixada. Já o pagamento dessa remuneração poderá se dar em uma única parcela no vencimento ou a cada seis meses. A previsão é que os papéis sejam distribuídos a partir deste mês, sendo que o encerramento da oferta poderá se arrastar até fevereiro ou abril do próximo ano, dependendo das características da letra oferecida pelo banco.

Entre os 13 tipos de letras registrados pelo banco, um deles prevê o lançamento de R$ 2,5 bilhões de um papel que vence em sete anos e que renderá 100% do DI, com remuneração paga apenas no vencimento. A taxa chama a atenção, já que títulos com o mesmo prazo costumam oferecer condições melhores.

Outra modalidade tem previsão de pagar IPCA mais 6% ao ano por um período de sete anos, com a remuneração sendo paga a cada seis meses. Outro exemplo é de uma letra com juro pré-fixado de 10% ao ano, com vencimento em cinco anos e pagamento só ao fim deste período.

Por estarem livres do depósito compulsório e também do seguro do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), as letras são uma opção interessante de captação para os bancos em relação aos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Além disso, esses papéis precisam ter um prazo de vencimento mínimo de dois anos, o que oferece mais estabilidade de recursos para o banco em relação aos CDBs, que, em geral, têm liquidez diária.

Até agora oferecidas de forma privada, as letras financeiras acumulam um estoque de R$ 97 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Esse volume deve ganhar mais impulso com as ofertas públicas que começam a surgir. Em julho, o banco Daycoval anunciou um programa de até R$ 1 bilhão em letras. A primeira emissão será de R$ 200,1 milhões. Os papéis, com vencimento de dois anos e um mês, pagarão aos investidores o equivalente a 115% do Certificado de Depósito Interfinanceiro, remuneração bem superior à proposta pelo Bradesco. Procurado, o banco não se pronunciou sobre a operação.

(Carolina Mandl | Valor)

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