Com ações em queda, empresas valem menos na Bolsa que seu patrimônio

O pessimismo dos investidores nas últimas semanas, intensificado pelo rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos na sexta-feira, fez o valor de mercado das empresas de capital aberto derreter. Das 61 companhias negociadas no Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), 22 estão com o preço abaixo do patrimônio líquido (ativos menos passivos), conforme dados da Economática, empresa de informação financeira.

A lista poderá subir ainda mais ao final da safra de balanços na semana que vem, já que algumas comparações foram feitas com base no patrimônio do primeiro trimestre, afirma o gerente de relacionamento institucional da Economática, Einar Rivero, responsável pelo levantamento. Um dos casos é o da Eletrobrás, cujo valor de mercado nesta terça-feira, 9, correspondia a 29,8% do patrimônio registrado no primeiro trimestre de 2011. É a pior relação entre as 22 empresas levantadas.

Fibria e Marfrig aparecem em seguida, com 41,7% e 49,5%, respectivamente. Segundo especialistas, essa relação pode ser um indicador importante para avaliar se as ações das empresas estão caras ou baratas. Ter o preço abaixo do patrimônio, significa que a ação está com um desconto grande, afirma a chefe da área de análise da Ativa Corretora, Luciana Leocádio. Em outras palavras, as empresas estão ficando baratas na bolsa.

Isso não significa, entretanto, que o valor de mercado esteja refletindo os fundamentos econômicos das companhias. Em momentos de extrema volatilidade, como o dos últimos dias, afirma Luciana, cria-se muitas distorções no mercado, que antecipam possíveis prejuízos no futuro. Entre as empresas com preço abaixo do patrimônio, exemplifica ela, está a Petrobrás, uma companhia robusta e saudável. A relação da petroleira, conforme a Economática, é de 84,5%. Outro caso é a Gerdau, cujo preço representa 69,8% do patrimônio.

Mas também há empresas com problemas específicos que estão na lista. A Marfrig, por exemplo, está altamente alavancada por causa das últimas aquisições e seus custos aumentaram de forma expressiva nos últimos meses. No caso da Eletrobrás, o problema pode ser político. Segundo analistas, a estatal não tem bom contato com o mercado. Os cronogramas de apresentação dos balanços nunca são cumpridos e sempre faltam informações sobre a empresa.

Na prática, a queda dessa relação pode provocar a perda de capacidade da empresa de fazer novos negócios, afirma o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, Ernesto Lozardo. Ele explica que a redução do valor de mercado naturalmente diminui a possibilidade da companhia de alavancar recursos no mercado, conseguir garantias e fazer investimentos.

"Se você tem um valor de mercado acima do patrimônio líquido, você tem mais condição de obter recursos e financiamentos", explica o professor. Quanto mais alto o valor por ação, maior o volume de recursos que a empresa pode levantar no mercado, completa a equipe de análise da XP Investimentos.

Recompra. Outro reflexo da desvalorização das companhias de capital aberto deverá ser a ampliação do movimento de recompra de ações iniciado no fim do ano passado. Quem tiver dinheiro em caixa poderá comprar as ações por preços bastante atraentes, afirma o gestor dos fundos de ações da Capitânia, Eduardo Miziara. Hoje há mais de 20 companhias com processo de recompra em aberto na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

(Renée Pereira l O Estado de S. Paulo)

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