Cosan reafirma interesse nos ativos da Gas Brasiliano

Depois de anunciar um negócio de bilhões de reais com a multinacional Shell no início desta semana, a Cosan afirmou ontem que pode fazer uma oferta pelas operações brasileiras de distribuição de gás da italiana Eni SpA. Maior produtora mundial de etanol de cana-de-açúcar, a companhia brasileira busca ampliar sua participação no mercado de distribuição de combustíveis e de energia.

"Estamos levando em consideração fazer uma oferta; a decisão ainda não foi tomada", afirmou o diretor de finanças da empresa, Marcelo Martins, em conferência telefônica com analistas. "As operações da Eni no Brasil parecem interessantes e são complementares a nossos negócios", completou.

A Gas Brasiliano Distribuidora, unidade da companhia italiana, opera como distribuidora de gás natural no noroeste do Estado de São Paulo. Ela foi colocada a venda novamente no fim do ano passado. Em 2005 ela foi colocada a venda pela primeira vez. Na época, a Cosan já aparecia como uma das interessadas. Além dela, estariam na disputa a Petrobras; a japonesa Mitsui; a Termogás, do empresário Carlos Suarez, associada à Cemig; o Fundo InfraBrasil do banco Santander; e a colombiana Promingás, controlada pela Prisma Energy International, que comprou os ativos da Enron.

Quando concluir sua saída da Gas Brasiliano, a atuação da Eni no Brasil vai restringir-se à área de exploração de petróleo e gás, já o grupo italiano vendeu, em 2004, a Agip Liquigás para a Petrobras por US$ 450 milhões.

A área de concessão da Gas Brasiliano fica na influência do Gasoduto Bolívia Brasil (Gasbol) e abrange 58,1% dos municípios de São Paulo. Mas em termos de população representa apenas 20,4%. A empresa tem contrato de compra de gás boliviano até 2012. Na média dos doze meses encerrados em setembro, o consumo de gás na concessão da Gas Brasiliano foi de 520 mil metros cúbicos de gás por dia, menos da metade do consumo verificado pela Gás Natural, de 1,2 milhão de metros cúbicos dia. No mesmo período, a média da Comgás – a maior do Estado – foi de 11,8 milhões de metros cúbicos diários. A concessão da Gas Brasiliano foi comprada por R$ 274,5 milhões – equivalente a US$ 142,5 milhões pelo câmbio de novembro de 1999, quando foi privatizada – com os italianos pagando ágio de 150% em relação ao preço mínimo.

Mas a Cosan deve enfrentar forte concorrência se quiser mesmo entrar na distribuição de gás natural, principalmente por parte da Petrobras. Desde que ficou fora da privatização da Comgás na década de 90, a estatal tenta entrar no mercado de distribuição de gás em São Paulo, único Estado onde não tem presença forte apesar de ali existirem três concessões . A estatal, que é acionista de 20 das 27 distribuidoras de gás do país e detém 47% do mercado brasileiro de distribuição do produto, negociou em 2005 uma parceria com a portuguesa Galp para comprar a Gas Brasiliano . O projeto foi abortado quando os italianos desistiram do negócio apostando no sucesso exploratório do bloco BM-S-4 na bacia de Santos. Contudo, a Eni ainda está em fase de avaliação da descoberta de gás na área.

Caso fechasse um negócio com os italianos, seria mais uma aquisição de porte da Cosan nos últimos anos. A empresa, sediada em Barra Bonita (SP), comprou cerca de 1,5 mil postos entre outros ativos da Exxon Mobil, por US$ 826 milhões, em 2008, e acertou também a aquisição da rede de postos da Petrosul, em dezembro. Além do anunciado negócio com a multinacional Shell, que inclui a união dos postos das duas companhias, num total de aproximadamente 4,5 mil pontos de distribuição de combustíveis.

(Valor Econômico)

 

 

 

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