Certamente, você já observou o valor de uma marca ou acompanhou uma discussão sobre o tema. A Coca-Cola é um exemplo clássico: os seus produtos estão na mesa de milhões de consumidores.
O poder da marca da Coca-Cola é um dos ativos intangíveis da companhia. Mesmo não sendo físico e palpável, contribui para o consumo de produtos e tem um alto valor.
Em 2018, a marca valia US$ 79,9 bilhões. É por isso que a contabilidade precisa mensurar esse tipo de recurso e tantos outros intangíveis, como software, direitos autorais e receitas e fórmulas.
Mas como ativos dessa natureza não podem ser vistos ou tocados, usamos algumas metodologias indiretas para visualizá-los e mensurá-los. Além disso, como a contabilidade prima pela objetividade nos seus registros, apenas podemos registrar ativos intangíveis em determinadas ocasiões e sob determinadas regras.
Nesse contexto, para definir o tipo de ativo em questão e orientar o seu cálculo, o Comitê Internacional de Normas de Avaliação (IVSC) e o Comitê Internacional de Normas Contábeis (IASB), este último representado no Brasil pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), elaboraram, respectivamente, as diretrizes IVS 210 e o Pronunciamento Técnico CPC 04 (tradução da norma internacional IAS 38).
O documento aborda a maioria dos ativos intangíveis, apontando a melhor maneira de fazer o reconhecimento contábil deles. Neste post, falaremos sobre as normas contábeis e vamos mostrar o que são ativos tangíveis e intangíveis, o que é o CPC 04 e a importância da dedicação da contabilidade para o cálculo. Quer saber sobre o tema? Continue lendo o artigo!
#1 O QUE SÃO ATIVOS TANGÍVEIS E INTANGÍVEIS?
De maneira objetiva, podemos definir os ativos tangíveis da empresa como aqueles bens de propriedade com substância física. Isto é, que podem ser tocados e manipulados.
Os imóveis, as máquinas e os estoques são alguns dos ativos tangíveis que formam o capital físico e financeiro da empresa.
Já os ativos intangíveis são as propriedades que têm seu valor, mas não podem ser tocadas, vistas ou mensuradas diretamente. As marcas, a estratégia de cada empresa, a capacidade de se relacionar com o mercado, o potencial de inovação, os valores e princípios morais, todos esses recursos são intangíveis.
Os ativos intangíveis são aqueles que não têm existência física. São alguns exemplos: capital intelectual, licenças, softwares, franquias, direito de propriedade industrial e de serviços, modelos, projetos e protótipos. Eles têm valor econômico, mas não matéria corpórea.
O ativo intangível, antes da Lei nº 11.638/2007, que introduziu os conceitos da contabilidade internacional no Brasil, era contabilizado no grupo do ativo imobilizado. E mesmo assim de forma bem míope e rudimentar (na grande maioria, softwares, marcas e patentes).
Isso porque desde 1º de janeiro de 2008, quando entrou em vigor a Lei nº 11.638/2007, o ativo imobilizado passou a abranger somente bens corpóreos de uso permanente.
#2 POR QUE AVALIAR BENS INTANGÍVEIS?
Como os ativos intangíveis estão situados em uma esfera mais subjetiva e impalpável, medir um bem dessa natureza não é uma tarefa simples. Afinal, não existem muitos parâmetros para a mensuração de seus valores e a estimação da vida útil de cada bem.
Ainda assim, essa avaliação é necessária e relevante porque orienta uma série de outros processos e tomadas de decisão. Além disso, os ativos intangíveis representam, atualmente, em torno de 80% do valor de mercado de um negócio (média entre as companhias abertas). Diferentemente do cenário visto até a década de 1970, quando os intangíveis representavam apenas 20% do valor de mercado de uma empresa.
A mensuração dos ativos intangíveis é especialmente útil em algumas situações, como: – Garantias fiduciárias, principalmente para organizações prestadoras de serviços que não têm lastro em bens de capital; – Compra e venda de uma empresa; – Benefícios fiscais decorrentes de compra e venda; – Entrada ou saída de novos sócios; – Processo de abertura da empresa para franquias; – Planejamento estratégico.
No processo de mensuração desse tipo de bem, o Laudo Técnico de Avaliação de Ativo Intangível é um documento indispensável. Ele permite materializar existência dos ativos intangíveis e, por isso, deve reunir um conjunto de informações, a saber:
- Data-base da diligência;
- Objeto social e histórico da empresa titular dos ativos;
- Identificação, caracterização, organização e propriedade legal dos ativos intangíveis;
- Critérios, objetivos e metodologia da avaliação;
- Certificações e experiência dos avaliadores, em conformidade com as normas nacionais e internacionais de avaliação.
Com um documento completo, que reúna todos esses dados, o ativo intangível pode ser “enxergado” pelo leitor. Consequentemente, a mensuração dos ativos intangíveis ganha consistência e credibilidade.
Já a empresa cumpre uma exigência legal ao apresentar um laudo elaborado em conformidade com a legislação vigente, geralmente em atendimento a uma regulamentação específica.
No intuito de orientar a mensuração dos ativos intangíveis, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis elaborou o Pronunciamento Técnico CPC 04 – como já citado, uma tradução da norma original IAS 38, emitida pelo IASB.
No documento, um ativo intangível é definido como “um ativo não monetário identificável sem substância física ou incorpóreo (CPC 04)”. Ou seja, como já vimos, tem valor econômico, mas não tem existência física.
Na prática, o ativo intangível pode representar, por exemplo, os direitos de uso de associados a um bem ou direitos associados a uma empresa ou um negócio.
Sob a ótica do CPC 04, um ativo pode ser classificado como intangível quando:
- É separável da empresa, isto é, pode ser separado, dividido, negociado, vendido, transferido, licenciado, alugado ou trocado;
- É resultado de direitos contratuais ou de outros direitos legais;
- Existe a probabilidade de que os benefícios financeiros e futuros esperados – atribuíveis ao ativo – sejam gerados em favor da entidade;
- Pode ter seu custo mensurado com segurança.
Vale destacar, ainda, que o CPC 04 foi elaborado visando-se ao alcance de dois objetivos principais:
- Definir o tratamento contábil dos ativos intangíveis (exceto os abrangidos em outro Pronunciamento);
- Auxiliar na mensuração do valor justo, exigindo divulgações específicas sobre esses ativos.
O fato é que, mesmo quando não estão contabilizados, os ativos intangíveis existem, têm valor; e o seu monitoramento pode agregar vantagens competitivas. Daí a importância do auxílio profissional qualificado para identificação dos limites e metodologias de cálculo adequadas.
A mensuração é obrigatória em alguns casos, que serão vistos a seguir. Mas também é importante em questões jurídicas, como dissoluções societárias e divórcios, por ser a melhor maneira de refletir o valor de um projeto, de uma marca, de um direito autoral ou de outro intangível. Do contrário, corre-se o risco de a empresa não ter noção do capital que tem em mãos.
#3 COMO MENSURAR UM ATIVO INTANGÍVEL?
De acordo com as orientações do Pronunciamento CPC 04, um bem intangível, adquirido separadamente, pode ser mensurado pelo seu custo, que inclui:
- Preço de compra, com o acréscimo de impostos de importação e impostos não recuperáveis sobre a compra, bem como dedução de descontos comerciais e abatimentos;
- Qualquer custo atribuído à preparação do ativo para a finalidade proposta.
Portanto, para mensurar o custo dos ativos intangíveis, também é preciso determinar se a aquisição foi realizada separadamente ou em uma combinação de negócios.
Custo por aquisição separada: mede-se o valor presente dos benefícios projetados, que já deve estar refletido no preço pago (custo de aquisição, para fins contábeis).
Custo por aquisição em uma combinação de negócios: o ativo intangível é avaliado pela metodologia do valor justo, considerando-se a data de aquisição. De tal modo, esse custo apresenta as expectativas de mercado, no momento da compra, com relação à probabilidade de geração de benefícios econômicos para a empresa.
A maior complexidade na aquisição de um ativo intangível em conjunto com outros ativos, típico em uma combinação de negócios, exigiu a elaboração do CPC 15 – Combinação de Negócios, que trata da complexa segregação do preço pago entre o valor justo de todos os ativos adquiridos.
A mensuração de ativos intangíveis pode revelar muito sobre o valor e o potencial de uma empresa. Gostou do artigo e quer ficar por dentro de outros temas da área contábil? Continue acompanhando o blog da APSIS!