Debêntures despontam no financiamento privado no país

Volume de captação como título de renda fixa pode corresponder a 50% do desembolso do BNDES este ano, estima Oliveira Trust; impulso foi dado por mudança nas regras

Em meio ao recrudescimento da crise mundial, as debêntures emitidas a partir da resolução 476 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se consolidaram este ano como alternativa de dinheiro mais barato para empresas dos mais diversos portes e setores de atuação. Esse tipo de papel, isento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e destinado a investidores qualificados, já movimentou R$39,4 bilhões só no primeiro semestre deste ano. Mais do que todo volume de emissões de 2010, de R$ 38,1 bilhões.

Em agosto, o montante saltou para R$ 44 bilhões, conforme dados compilados pelo Sistema Nacional de Debêntures.

Por outro lado, o montante levantado com renda variável em oito meses foi de R$ 17,24 bilhões, conforme a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), sem qualquer captação no mês de agosto.

Alberto Kiraly, vice-presidente da Anbima, destaca que o crescimento das debêntures pela 476 é forte desde o ano passado e tende a continuar assim. "São operações mais rápidas, baratas e concentradas em poucos investidores", pondera. "O mercado local continua líquido e os investidores estão à procura de bons ativos, o que deve manter a demanda nos próximos meses." A Oliveira Trust, principal agente fiduciária do país, trabalha com perspectiva de aumento de 100% no número de operações em relação ao ano passado. Se confirmada, tal projeção significará elevação do montante total para algo próximo de R$ 76 bilhões – pouco mais de 50% dos desembolsos projetados para este ano pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de R$ 146 bilhões.

Ou seja, o mercado privado ainda está longe de substituir o papel do banco de fomento no financiamento às empresas brasileiras, mas é o percentual mais próximo que já se chegou disso.

Sócio-gerente da Oliveira Trust, Gustavo Desouzart revela que além das operações já feitas outras 11 estão em fase de estruturação este mês e pondera que a demanda independe das oscilações do mercado internacional, ao contrário de outras opções de financiamento e captação.

Além da isenção do imposto, tal fenômeno também se explica pela simplificação dos procedimentos burocráticos introduzidos pela instrução 476, editada em 2009. Ele reforça a visão de Kiraly, da Anbima, e acredita que o "boom" desse ativo tende a se intensificar ainda mais neste segundo semestre, não só devido ao freio nas operações de oferta de ações, mas à pressa das empresas em contabilizar as operações nos balanços ainda deste ano.

"Um dos benefícios da 476 foi ter garantido acesso às debêntures a todo tipo de empresa, independentemente do porte e do segmento de atuação", avalia Desouzart. "Antes da 476, só os grandes grupos empresariais tinham interesse em emitir esses papéis. Agora, no entanto, já são vistas operações com grupos menores. Esses papéis tornaram-se praticamente a porta de entrada do mercado de capitais para empresas menores", complementa o executivo, lembrando que debêntures podem ser emitidas por empresas de capital fechado.

Para se ter ideia da diversificação de emissões, a Gerador Securitizadora levantou R$ 10 milhões com debêntures neste formato este ano e a Ouro Verde Transporte e Locação, R$ 15 milhões. Já a NCF Participações levantou R$ 2,3 bilhões, o Hospital e Maternidade São Luiz, R$ 1 bilhão e a CSN captou R$ 1,15 bilhão.

BNDES Quando não financia, banco garante a compra de papéis

Se por um lado o mercado de capitais começa a exercer a função de financiador das empresas do país, o montante ainda está longe dos desembolsos feitos pelo BNDES e o papel do banco público se mantém relevante também na ponta compradora. A varejista Lojas Americanas comunicou ontem ao mercado que seu conselho de administração aprovou a oferta privada de debêntures no montante de R$ 292,6 milhões – e o comprador é BNDESPar, subsidiária de investimento em participações do BNDES.

Os papéis de dívida têm prazo de seis anos, juros prefixados correspondentes a 13,15% ao ano e são conversíveis em ações preferenciais da Lojas Americanas. A notícia de captação animou investidores da B2W, varejista on-line controlada pela Lojas Americanas, com a avaliação dos investidores de que o recurso possa alongar a dívida da empresa. Os papéis da B2W subiram mais de 7% durante a sessão na BM&FBovespa.

(Brasil Econômico)

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