Foi amor à primeira vista: quando provaram, durante uma viagem de férias ao Espírito Santo, a mistura de mel, cachaça e limão, conhecida como “Xiboquinha”, os amigos Luis Henrique Munhoz e Renato Almeida Prado souberam que sua união com a bebida seria de longa data. Dezessete anos depois, a Xiboquinha deu origem à Natique, empresa que administra a cachaça Santo Grau e a Vodka Liquid.
Ainda com um faturamento modesto, de R$ 10 milhões, a Natique chamou a atenção do grupo espanhol Osborne, que acabou de comprar uma fatia do negócio, com a intenção de internacionalizar as marcas da empresa brasileira.
Depois de seis meses de negociações, a Natique e a bicentenária Osborne chegaram a um acordo pelo qual a espanhola comprou 50,1% da empresa brasileira. O valor do negócio não foi revelado. Não é a primeira vez que a companhia se envolve com o mercado nacional: o Grupo Osborne tem uma aliança com a gaúcha Miolo Wine Group desde 2006 e distribui alguns de seus produtos no País.
Com a compra de parte da Natique, os estrangeiros pretendem adquirir uma posição competitiva no mercado brasileiro. Antes de assinarem o acordo, Munhoz relata que ouviu de Ignacio Osborne, o presidente do grupo espanhol: “com qualquer outro drinque os brasileiros podem ser muito bons, mas com cachaça podem ser os melhores do mundo”.
O investimento feito pelos espanhóis ocorre de forma paralela ao refinanciamento da dívida corporativa do grupo, estimada em 90 milhões. A companhia fechou 2012 com vendas líquidas de 222 milhões. Em relação ao ano anterior, o faturamento cresceu 7%. A unidade de bebidas, que também tem restaurantes e uma grife de produtos com a marca “Toro de Osborne”, representa 78% das vendas.
Nacional. Além do produto “importado” das férias capixabas, a Natique administra, desde 1998, as Cachaças Santo Grau, que apostam no mercado premium e, desde 2005, a Vodka Liquid, direcionada ao público jovem. Juntas, as duas bebidas respondem por 70% do faturamento da empresa
Apesar da expansão expressiva dos negócios, a Natique preza pela produção artesanal – a Santo Grau, por exemplo, é produzida em diferentes engenhos, entre os quais o de Coronel Xavier Chaves, em Minas Gerais, com mais de 250 anos de história.
O fato de não estarem focados exclusivamente na produção industrial de bebidas foi um dos fatores que contribuiu para a identificação entre as duas empresas. “O que atraiu os espanhóis foi a juventude e o empreendedorismo e não uma visão exclusiva da produção”, afirma Luis Henrique Munhoz.
De acordo com consultor e especialista em cachaça, Jairo Martins da Silva, as oportunidades do negócio também estão relacionadas à visibilidade que o produto vai ganhar com os eventos esportivos que terão sede no país como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. “As grandes empresas estão fazendo aquisições de olho no cenário mundial. Hoje, apenas 1% da produção brasileira, que é de cerca de 1,2 bilhões de litros, é vendida para o exterior.”
Com a nova sociedade, o projeto da Natique para os próximos cinco anos tornou-se ainda mais ambicioso: a empresa quer estar entre as cinco maiores marcas de cachaça atuantes no Brasil. Hoje, as líderes são Muller, Tatuzinho, Pitu, Caninha da Roca e Ypioca.
(Estadão)