Grupo Ultra busca expansão no exterior

O grupo Ultra vai intensificar este ano seu movimento de internacionalização. Conglomerado que reúne ativos na área de distribuição de combustíveis (Ultragaz/Ipiranga), químicos (Oxiteno) e de logística (Ultracargo), sob o guarda-chuva da holding Ultrapar Participações, a companhia investiu nos últimos dez anos cerca de R$ 8 bilhões, metade dos quais em aquisições. Agora, com sua base mais do que consolidada no país, a estratégia de crescimento do grupo será na compra de ativos fora do Brasil para expandir seus negócios em especialidades químicas e gás. No mercado interno, o Ultra trabalha para elevar sua participação em distribuição de combustíveis para não perder participação.

Um pouco avesso a entrevistas, Paulo Cunha, presidente do conselho de administração da companhia e um dos acionistas do grupo, abriu exceção ao Valor, que completou dez anos ontem. Com 70 anos, dos quais mais de 40 anos dedicados à companhia, Cunha não dá mostras de que vai deixar o dia a dia do grupo. Pelo contrário. "Meu desafio é deixar a empresa maior", diz.

Em dezembro, a companhia renovou seu acordo de acionistas por mais dois anos. Pouca coisa foi alterada. "Basicamente vírgulas", diz Cunha. Mas as bases para a sucessão na empresa já começam a ser discutidas. O atual presidente executivo, Pedro Wongtschowski, deverá deixar o cargo em dois anos, quando completa 65 anos, como determina o estatuto do Ultra.

Nesses últimos dez anos, o grupo Ultra protagonizou movimentos importantes de consolidação, tornando-se um dos maiores do país. A aquisição da Ipiranga colocou a companhia na vice-liderança em distribuição de combustíveis no país, os ativos de gás que pertenciam à Shell, comprados pelo Ultra, fortaleceram a posição de liderança da companhia nesse segmento, e a incorporação da União Terminais permitiu maior robustez em logística, só para citar alguns exemplos. Os próximos passos serão igualmente ambiciosos. "Buscamos aquisições de maneira metódica e cautelosa no exterior", afirmou o executivo.

Em seu plano de internacionalização, a companhia vai focar, sobretudo, em ativos para crescer em especialidades químicas e em gás. Por meio da Oxiteno, divisão química do Ultra, a empresa possui unidades no México e Venezuela. Essas fábricas são produtoras de especialidades químicas. "Saímos de commodities. Nosso interesse não é em especialidade química em geral, mas em tensoativos. Somos muito bons nisso. São produtos utilizados em várias aplicações, como detergentes, alimentos, têxteis, agrícola e até em formulação de cosmético.

No México, o Ultra tem 30% desse mercado. "Vamos ampliar nossa presença no exterior, mas não é só o México. Estamos olhando ativos nos mercados americano e europeu por conta da lógica do negócio."

O grupo também deverá negociar compra de ativos no setor de gás. Nesse caso, a busca será feita na América Latina e Europa. Cunha não estipula prazo, diz que deve ser o mais rápido possível. Líder em distribuição de GLP (gás de cozinha), por meio da Ultragaz, a companhia quer ampliar sua presença em outros mercados.

No mercado interno, a companhia não se sente em zona de conforto. Em distribuição de combustíveis, na posição de vice-líder, o Ultra vai continuar avaliando ativos para se distanciar de seus principais concorrentes. Hoje está atrás da BR Distribuidora (Petrobras), mas desde fevereiro sente sua vice-liderança ameaçada, com o passo dado pela Shell, que se aliou ao grupo Cosan. O crescimento nesse segmento se dará por aquisições de empresas pequenas e médias, avanço sobre bandeira branca em regiões no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. "Não temos mais uma Esso, Texaco e Ipiranga no mercado", observa.

Os rumores de que o Ultra estaria comprando a AleSat são fortes. Cunha nega. "Conversamos. Mas todos conversam com todos", afirma Cunha.

O grupo Ultra tem programado para este ano investimentos de R$ 800 milhões no Brasil, valor que não contempla aquisições. Esse aporte será para promover o crescimento orgânico.

A compra da União Terminais, em 2008, por meio da Ultracargo, garantiu à companhia liderança isolada em armazenagem de granéis líquidos do país. Este ano, o Ultra vendeu seus ativos em transporte rodoviário, que também faziam parte da Ultracargo, para um fundo administrado pelo GreenCapital. "Temos que ter foco no que somos bons."

Com receita líquida de R$ 36,1 bilhões em 2009, crescimento de 28% sobre o ano anterior, a companhia obteve lucro líquido de R$ 466,7 milhões. Os negócios de distribuição responderam por R$ 30,5 bilhões. "Nos últimos dez anos, o Ultra multiplicou em 22 vezes o seu faturamento; cresceu oito vezes sua geração de caixa. No mesmo período, ele registrou aumento de 18% ao ano do lucro líquido."

Esse crescimento acentuado deve-se, em grande parte, pela ida da companhia à bolsa, em 1999, quando quase nenhum grupo brasileiro arriscava-se em negociar suas ações no mercado. "Foi a primeira abertura de capital no Brasil depois de quase sete anos. Fizemos porque abria caminho para financiamento e pela disciplina imposta pelo mercado às empresas de capital aberto, de práticas de gestão, que são importantes para nós."

Futuramente, ainda sem data certa, o Ultra poderá optar pela separação das empresas por negócios, mas essa decisão ainda não foi tomada. "Essa é uma questão de funcionalidade gerencial. No momento que fizer sentido (para o grupo) será feita. Estamos satisfeitos com a atual trajetória", diz.

Com boa parte da vida dedicada ao grupo – sua história se confunde com a da empresa -, Cunha diz que quando sobra tempo lê bastante, dois a três livros ao mesmo tempo, e pesca. "Sou um sujeito muito simples, não tenho muitas complexidades."

(Mônica Scaramuzzo | Valor)
 

 

 

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