IPO libera BTG de meta de retorno prometida a fundos

O banqueiro André Esteves tem alguns bons motivos para celebrar, hoje, quando seu banco de investimentos BTG Pactual estrear na bolsa de valores e ele e seus sócios tocarem, de maneira simbólica, o sinal de abertura do pregão da Bovespa. Além da estreia em si, de protagonizar o maior IPO (oferta inicial de ações) do país desde 2009, e de ter alcançado um preço considerado excelente pelo banco, há um terceiro motivo que vem merecendo comemoração mais discreta. Com a chegada do BTG à bolsa, caem por terra obrigações contratuais que existiam com os fundos e famílias que injetaram US$ 1,8 bilhão no banco em dezembro de 2010, entre eles os fundos soberanos da China, de Cingapura e Abu Dabi.
 
Entre elas, a cláusula segundo a qual o banqueiro comprometeu-se a entregar determinada rentabilidade anual aos novos acionistas ou, então, abrir o capital do banco, sob pena de ter sua participação e as dos demais sócios diluídas se falhasse em cumprir um dos requisitos. A cláusula tinha um prazo para ser cumprida; alguns dizem que era de cinco anos e outros afirmam que não era tão elástico. Especula-se que a rentabilidade prometida aos investidores era de 20% ao ano. Mas, agora, nada disso importa – e essa é uma boa razão para se comemorar.
 
Por outro lado, durante as conversas com os mais qualificados investidores do mundo nas últimas semanas, Esteves e os demais sócios sênior do banco, como Roberto Sallouti, Marcelo Kalim e Persio Arida, prometeram a quem comprasse os papéis que o banco deverá gerar retornos anuais de 25% – algo que, segundo eles, é consistente com o desempenho histórico da instituição. Agora, é entregar resultado ao mercado, que certamente cobrará.
 
Hoje, todas as atenções estarão voltadas ao desempenho que as "units" terão em seu batismo. O preço de R$ 31,25, cravado no centro da faixa indicativa de preço da oferta, foi pensadamente calibrado para deixar espaço para as ações subirem e fazerem bonito.
 
A demanda pelos papéis ficou entre quatro e cinco vezes o volume vendido. O banco optou por colocar apenas 75% do lote adicional (podia ampliar a oferta em até 20%, mas aumentou em 15%). A intenção foi atender o excesso de demanda dos investidores, mas evitar uma maior diluição dos sócios. A expectativa é que o lote suplementar (15%), que é exercido a critério dos bancos coordenadores no prazo de até 30 dias, seja integralmente colocado.
 
Com isso, a oferta deve chegar a um total de quase R$ 3,7 bilhões – sendo 80% um aumento de capital e 20% para o bolso de alguns acionistas vendedores.
 
O BTG Pactual vale, na largada, cerca de R$ 28 bilhões. Calcula-se que Esteves seja dono de 20% do banco, incluindo as ações ordinárias que lhe dão o controle acionário. Com o aumento de capital, o patrimônio líquido irá a R$ 12 bilhões, o que deve permitir que a carteira de crédito, hoje em R$ 21 bilhões, suba a R$ 36 bilhões.
 
Alguns dos maiores fundos do mundo, que costumam frequentar as principais ofertas de empresas brasileiras, como Capital, Wellington e Fidelity, levaram seu pedaço – estima-se que coisa de US$ 50 milhões cada um. E houve também uma demanda inesperada de fundos e famílias da América Latina, em grande parte porque o próprio BTG ofereceu os papéis aos clientes do seu private banking

(Vanessa Adachi | Valor)

 

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