Kroton aposta no ensino a distância com a líder Unopar

Diante da projeção de que o mercado de ensino a distância (EAD) vai dobrar de tamanho daqui cinco anos, o grupo mineiro Kroton decidiu desembolsar R$ 1,3 bilhão pelos 162 mil alunos da Universidade do Norte do Paraná (Unopar). Trata-se da maior transação já fechada no setor de educação. "A Kroton pagou um valor alto apostando no crescimento do EAD", disse Ryon Braga, sócio da Hoper, consultoria especializada em educação.
 
Cada aluno custou à Kroton cerca de R$ 8 mil. A Anhanguera pagou, no mês passado, R$ 6,9 mil por cada estudante da Uniban. Porém, nessa conta é preciso levar em consideração que as dinâmicas de uma operação de ensino a distância são diferentes de um negócio presencial.
 
A Kroton justifica a transação mostrando que a margem Ebitda da Unopar é de 28% contra 17% da própria Kroton. Os investimentos são baixos porque são realizados pelos próprios polos que operam como uma espécie de franquia e a tributação é menor, uma vez que instituições que oferecem Pro Uni (financiamento estudantil) pagam uma alíquota média 1,5%. "Além disso, haverá uma sinergia em custos e despesas de R$ 21,3 milhões até 2013", explicou Rodrigo Galindo, presidente da Kroton, durante teleconferência realizada na sexta, quando a ação da empresa fechou com queda de 3,1%.

A aquisição da Kroton chega em um momento em que várias instituições de ensino voltaram a apostar em EAD. Em 2009 e 2010, o ritmo de crescimento no setor sofreu forte desaceleração, principalmente por conta de exigências por parte do MEC para readequação nos polos de ensino. Várias faculdades fecharam suas portas e mais de 1.300 polos foram desativados. A própria Unopar teve que refazer seu material didático, contratar mais coordenadores e adotar outras exigências do MEC que demandaram investimentos R$ 10 milhões.
 
Com a casa arrumada, a Unopar tornou-se o principal atrativo na área de ensino a distância devido ao grande volume de alunos e de polos distribuídos em 422 cidades do país. Fundada há 39 anos em Londrina, no Paraná, como uma faculdade presencial, a Unopar entrou em EAD em 2002. Nessa época, havia poucos grupos educacionais apostando no segmento e por isso conseguiu uma abrangência tão significativa.
 
"O que nos ajudou muito é que tínhamos um canal de TV a cabo em Londrina. As gravações das aulas eram feitas nos estúdios da TV, que fechou e deu lugar aos cursos de EAD", disse Elisabeth Bueno Laffranchini, fundadora da Unopar, durante entrevista concedida ao Valor em setembro.
 
Com a aquisição, a Kroton passa a ter 264 mil alunos, tornando-se o segundo maior grupo de educação em número de estudantes no país, perdendo apenas para a Anhanguera que tem 292 mil. A receita líquida combinada da Kroton estimada para esse ano é de R$ 1,1 bilhão e o lucro é de R$ 162 milhões.
 
Os recursos para aquisição serão provenientes das seguintes fontes: R$ 600 milhões virão de um aumento de capital, R$ 210 milhões de uma nova dívida bancária, R$ 100 milhões do caixa da companhia, R$ 260 milhões em ações e R$ 130 milhões em pagamento parcelado em 12 meses.
 
A Kroton foi fundada em 1973 pelo ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e desde 2009 tem como principal acionista o fundo de private equity americano Advent. Não é apenas a Kroton que tem um fundo como controlador de um grupo de ensino. A Anhanguera tem como acionista principal o Pátria e também tem investido fortemente na área de ensino a distância. Em setembro, a empresa anunciou um investimento de cerca de R$ 40 milhões em uma nova plataforma tecnológica que permitirá dobrar sua capacidade de ministrar aulas virtuais.
 
A carioca Estácio, que também tem como principal controlador o fundo de investimento GP, está apostando nas aulas virtuais. Seu registro para operar nessa área foi obtido há apenas dois anos e a faculdade já conta com mais de 36 mil matriculados e 27 pedidos de abertura de polos junto ao MEC. A Estácio também está de olho em faculdades que já têm autorização para atuar em EAD em seus processos de aquisições.

(Valor)

+ posts

Share this post