60 Segundos com Ana Cristina França de Souza

Ana Cristina França de Souza MRICS, sócia e conselheira da Apsis Consultoria Empresarial, é a entrevistada do mês no nosso 60 segundos. Para a profissional, o mercado de business valuation no Brasil é crescente, principalmente após nossa aderência ao IFRS.

“O novo padrão contábil internacional trouxe muitas demandas para o mercado brasileiro, envolvendo intangíveis, teste de recuperabilidade (“impairment”), valor justo, combinação de negócios, entre outras. Hoje em dia, falta profissional qualificado neste mercado.Vejo um ótimo cenário para quem quer se especializar e atuar na área, com demanda crescente” afirma Ana Cristina. 

Confira a entrevista na íntegra:

Sou sócia e conselheira da Apsis Consultoria Empresarial, onde atuo há mais de 25 anos em avaliação de empresas, incluindo ativos tangíveis e intangíveis e consultoria imobiliária. Sou membro do Royal Institution of Chartered Surveyors (RICS) e diretora-executiva e fundadora do Comitê Brasileiro de Avaliadores de Negócios (CBAN) da ANEFAC. Também atuo como diretora e professora do Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros (IBEF). Dei aulas no MBA de Avaliação de Marcas da FGV e no Instituto de Engenharia Legal (IEL). Sou responsável técnica no Brasil do International Association of Consultants, Valuators and Analysts (IACVA), por onde fui certificada internacionalmente como avaliadora com a credencial ICVS – “International Certified Valuation Analyst”.

Na sua opinião, o que significa ser um membro da RICS?

Para mim é uma grande honra fazer parte de uma instituição tão tradicional e internacionalmente conhecida e respeitada como a RICS. Ser membro da RICS é compartilhar dos valores e padrões da instituição e trabalhar sempre pelo interesse público.

Qual é a importância da RICS para o mercado?

Vivemos um mundo de rápidas transformações, na sempre globalização que busca entre outras, a harmonização das práticas contábeis. Estas mudanças impactam diretamente o mercado de avaliação destacando a necessidade crescente de instituições como a RICS para liderar o processo de transformações e seus impactos nas práticas profissionais. Iniciativas como o Grupo Internacional de Trabalho sobre Intellectual Property Valuation, coordenada pelo Phillip Gainey e o Nnamdi Johnston, vão fazer toda a diferença na evolução deste tipo de avaliação bastante complexa. Se um curso reconhecido e certificado pela RICS tem um grande peso na hora do avaliador escolher onde investir em treinamento, imagine na vida profissional.

Como você vê o cenário brasileiro de business valuation?

O mercado de business valuation no Brasil é crescente, principalmente após nossa aderência ao IFRS, já que o novo padrão contábil internacional trouxe muitas demandas para o mercado brasileiro, envolvendo intangíveis, teste de recuperabilidade (“impairment”), valor justo, combinação de negócios, entre outras. Hoje em dia, falta profissional qualificado neste mercado. Vejo um ótimo cenário para quem quer se especializar e atuar na área, com demanda crescente.

Na sua opinião, quais os benefícios da implantação do IFRS no Brasil? E qual é a importância do Red Book neste contexto?  

A implantação do IFRS trouxe novas demandas e com elas novos desafios. A essência prevalece sobre a forma, aumentando a responsabilidade dos avaliadores, mas também dos gestores e auditores. Fiz o treinamento do Red Book e fiquei impressionado com a qualidade do material.

É fundamental termos normas profissionais na língua portuguesa, que incorporem as IVS (International Valuation Standards) que são as Normas Internacionais de Avaliação do IVSC (International Valuation Standards Council). A língua estrangeira é uma grande barreira à nossa adequação aos padrões internacionais de avaliação. Um ponto forte na harmonização contábil foi justamente o papel do CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), que traduziu e divulgou com muito sucesso o IFRS. Além disso, um ponto fundamental é a parte de “ética, competência, objetividade e divulgações” do Red Book. Não adianta termos os padrões sem um comprometimento com as melhores práticas.

Como você vê o desenvolvimento da profissão para os próximos 5 anos? 

Apesar de todas estas novas demandas do IFRS, além das demandas da Lei das Sociedades Anônimas e das operações de M&A (fusões e aquisições), creio que ainda estamos em um estágio preliminar de qualificação de profissionais e usuários dentro das melhores práticas internacionais de avaliação de negócios. Os padrões e metodologias internacionais muitas vezes são aplicados diretamente no Brasil sem uma análise crítica, o que pode levar a resultados distorcidos. É fundamental conhecer profundamente a teoria internacional de avaliações para adaptá-las para o mercado brasileiro. 

Um ponto muito relevante para a adoção de metodologias e desenvolvimento de modelos empíricos é termos uma base de dados de negócios – uma fonte primária com informações detalhadas das transações e transparência do mercado, assim como temos no mercado imobiliário. Esta ainda é uma grande deficiência do mercado brasileiro. 

Além disso, acredito que o melhor caminho para amadurecer este mercado de avaliadores de negócios é termos uma maior oferta de treinamento e qualificação preparatórios para uma certificação profissional de padrão internacional, comprometida com o desenvolvimento contínuo. Vivemos no Brasil uma crise de valores éticos no ambiente corporativo e este tipo de iniciativa pode ser a mudança para um novo ciclo virtuoso. Uma certificação internacional garante um profissional preparado (treinado) e, principalmente, comprometido com o seu desenvolvimento contínuo neste ambiente de constantes mudanças. É um desafio pessoal, mas também uma garantia para o profissional e para o mercado.

Como disse o mestre Mahatma, “Seja a mudança que você quer ver no mundo.” Que a RICS possa nos ajudar a sermos parte desta mudança contínua.

(RICS)

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