Setor de lácteos tem grande potencial para fusões

No início deste mês, surgiram comentários na mídia de que a LBR poderia se unir à Parmalat italiana, o que ainda não se confirmou.

São Paulo – O mercado de leite no Brasil está retomando o ritmo de crescimento verificado antes da crise financeira de 2008 e atrai grandes indústrias interessadas em fusões e aquisições em um setor onde ainda se vê pouca concentração, segundo um consultor especializado.

Nos últimos meses, o mercado de laticínios no Brasil apresentou grandes movimentações, com a maior delas sendo a associação entre a Monticiano, divisão de lácteos da GP Investimentos, e a gaúcha Bom Gosto, que deu origem à LBR (Lácteos Brasil), maior companhia do setor, com faturamento anual de 3 bilhões de reais.

No início deste mês, surgiram comentários na mídia de que a LBR poderia se unir à Parmalat italiana, o que ainda não se confirmou.

"Entre 2006 e 2007, um monte de indústrias estava tentando entrar no setor leiteiro, com grande procura de grandes empresas … Aí veio a crise financeira e acabou tudo", afirmou Maurício Palma Nogueira, diretor executivo da consultoria especializada Bigma.

Nogueira pondera que as grandes cooperativas do setor, como Itambé, Confepar, Centroleite, Cemil, vêm tentando se unir para ganhar participação no mercado, mas enfrentam dificuldades na hora de ajustar operações administrativas. "Este é um assunto recorrente, falar em fusão de cooperativas… É claro que quando as cooperativas hesitam, abrem espaço para quem tem capital e entra (no mercado)".

Ele calcula que, em 2009, as 14 maiores empresas do setor movimentaram 8 bilhões de litros dos 30 bilhões de litros de leite produzidos no país. "Não dá um terço da produção. Não é um mercado concentrado, como muita gente quer dizer, mas logo, logo vai ficar cada vez mais concentrado. É uma tendência irreversível", prevê.

No começo desta semana, outro grande negócio na área internacional do setor foi fechado pelo grupo francês Lactalis, que ampliou sua presença na italiana Parmalat, maior grupo de laticínios da Europa, a quase 30 por cento.

Mercado importador – O consultor ressalta que o mercado de leite sempre foi importador no Brasil e apresentou seu primeiro saldo positivo na balança comercial em 2004, o que durou até 2008. "E depois com a crise sobrou leite no mundo", acrescentou.

"O leite brasileiro vai ser exportador … digo isso no médio e longo prazo, coisa de 5 ou 10 anos, o Brasil se consolidará como exportador cada vez maior", afirmou.

Ele ponderou que o país ainda pode ficar atrás de Nova Zelândia, União Europeia e Estados Unidos, mas ressaltou que mesmo assim a tendência é ganhar espaço como aconteceu na pecuária de corte.

"Se voltasse em 92/93 e falasse que o Brasil ia ser o maior exportador de carne bovina, as pessoas iriam rir de você", disse ele.

Agora as indústrias veem um potencial grande de crescimento no mercado brasileiro, com a abertura de marcas com valor agregado, e o mercado internacional está sinalizando para um déficit da ordem de 30 bilhões de litros por volta de 2015, de acordo com projeções da FAO .

"Para se ter uma ideia, este volume é o equivalente à atual produção média brasileira por ano. O que se espera é uma demanda maior que a capacidade de oferta e o Brasil é um país com condição de atender esta demanda", afirmou.

"O mercado internacional sinaliza que nós teremos muito espaço para vender muito leite no futuro, mesmo que hoje o preço brasileiro esteja acima dos valores registrados no mercado internacional", destacou.

Produtividade –  Nogueira sublinha que este é um mercado que deixou de investir em nichos de mais qualidade, passando a focar em preços baixos com o leite longa vida. "Então, existe um espaço muito bom para as empresas fazerem um trabalho tanto para mercado interno como se posicionando para o mercado internacional", acrescentou.

Ele ainda não vê espaço para aquisições fora do país, porque ainda há muito espaço no mercado interno. "Eu acredito que o leite passa por um processo de amadurecimento. Faz muito sentido crescer … fusões e entrada de grupos grandes na indústria láctea", disse. Segundo ele, isso deve ocorrer entre Minas Gerais e na região Sul do país, pela forte produção leiteira.

No ranking mais recente dos produtores, Minas Gerais figura como primeira bacia leiteira do país, seguido de Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Santa Catarina e São Paulo.

Nogueira observou que a produtividade brasileira ainda é baixa. Segundo ele, um rendimento acima de 25 mil litros de leite por hectare útil já é classificado como produtor de alta tecnologia. Mas no Brasil, esta média é muito baixa.

Citando dados compilados pela Embrapa, ele observou que mesmo em importantes bacias leiteiras, como Paraná e Santa Catarina, o rendimento estava em torno de 2,5 mil litros por hectare, enquanto produtores mais capitalizados chegavam a atingir 9 mil litros por hectare.

(Reuters)

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