A Stefanini, especializada em serviços de tecnologia, uma das companhias mais internacionalizadas do Brasil, com atuação em 34 países, acaba de entrar em um novo ramo: o de automação varejista. O empresário paulista Marco Stefanini, fundador e presidente da companhia, afirmou à DINHEIRO que está comprando, por um valor não revelado, 40% da gaúcha Saque Pague, cujo negócio é fornecer soluções de pagamentos para comerciantes. Criada em 2011, a Saque Pague desenvolveu um caixa eletrônico que não precisa ser abastecido com dinheiro por uma empresa de transporte de valores. O equipamento é capaz de “reciclar” as notas, ou seja, as cédulas depositadas nela, pelos próprios clientes, são repassadas a correntistas que estiverem fazendo uma retirada. A ideia é que o varejista faça a famosa “sangria” de caixa na própria máquina. O sistema conta o dinheiro e realiza o depósito na conta corrente do comerciante na mesma hora. A partir desse momento, todo o risco relacionado ao manuseio e à guarda das notas passa para o dono do caixa, no caso a Saque Pague. “Isso traz mais segurança ao varejo”, afirma Givanildo da Luz, presidente da empresa. “Além disso, nosso caixa permite a oferta de outros serviços, como saques e recarregamento de cartões pré-pagos.”
Atualmente, são feitas cerca de um milhão de transações nas máquinas da companhia, que possui parceria com os bancos Banrisul, do Rio Grande do Sul, Banpará, do Pará, e Banese, do Sergipe, além da Vivo Zuum, empresa de pagamentos móveis da operadora de telefonia Vivo. Desde 2012, o volume de dinheiro movimentado pela Saque Pague já chega a R$ 1,5 bilhão. Para Stefanini, o negócio é promissor. “O comércio brasileiro ainda tem muito a crescer na área de tecnologia”, afirma o empresário. “Em tempos de crise, soluções como essa são importantes.” Mais do que a expectativa de crescimento, para o empresário, que é formado em geologia pela Universidade de São Paulo e hoje comanda uma empresa com um faturamento de R$ 732 milhões, o negócio significa uma união com um dos mais misteriosos e discretos magnatas do Brasil, o gaúcho Ernesto Corrêa da Silva.
Dono de uma fortuna estimada em US$ 1,6 bilhão, Corrêa da Silva iniciou sua carreira exportando sapatos da China. Nos anos 1990, ele fundou, na cidade de Dongguan, um importante polo industrial da província de Guangdong, a Paramount Asia, fabricante de calçados especializada em assumir a produção terceirizada de grifes. Na virada do século, a empresa chegou a figurar como a maior exportadora de calçados do mundo. De estilo discreto, avesso a fotos e entrevistas, Corrêa da Silva expandiu seus negócios para diversas áreas. Hoje, ele é dono da rede de hotéis Intercity, do banco Topázio e do cartão de crédito regional Good Card. Ele também tem negócios na área de gestão de frotas e no setor de agronegócio. A Saque Pague não é sua primeira incursão pelo mundo dos pagamentos eletrônicos. Em 2003, o empresário decidiu investir em um projeto apresentado pelo então executivo José Renato Hopf, na época com 34 anos. Foi o nascimento da GetNet, processadora de cartões vendida no ano passado para o banco Santander, por R$ 1 bilhão. “Nós já aproveitávamos as sinergias que tínhamos dentro do grupo”, afirma Luz. “Agora, com a Stefanini, vislumbramos até os mercados internacionais em que ela atua.”
Para Stefanini, a entrada em um novo segmento é, também, um movimento defensivo em virtude das mudanças por que passa o mercado de tecnologia. “A área de serviços não está mais descolada dos setores de hardware e software”, afirma. “O fornecedor precisa oferecer e ter absoluto controle sobre uma solução completa.” Será a primeira vez que a Stefanini terá no seu portfólio um produto que envolve, também, o equipamento. Uma coisa, no entanto, não muda: a internacionalização. “O Brasil precisa aumentar a presença internacional porque, no mundo atual, ninguém faz nada sozinho”, diz Stefanini. “É preciso fazer parte da cadeia de suprimentos global.” Caminhar sozinho, ao que parece, não é mesmo a sua praia.
(Rodrigo Caetano | Istoé Dinheiro)