BRF sai do inferno astral no Brasil e mira novos países

Após acertar venda de ativos para o Marfrig, Brasil Foods recoloca em andamento plano de investimentos no exterior, com foco em fábricas no Oriente Médio e na China.

"A fusão não termina nunca." A frase dita recentemente por José Antonio do Prado Fay, presidente da BRF Brasil Foods, mostra bem o estado de ânimo do executivo à frente da maior companhia de aves, suínos e congelados do país.

Em inferno astral desde 19 de maio de 2009, data em que foi anunciada a fusão da Sadia com a Perdigão, a BRF só conseguiu aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) em 13 de julho deste ano.

A aprovação com restrições obrigou a companhia a colocar à venda uma série de ativos, o que inclui desde unidades industriais até marcas como a Rezende. Como o mercado todo suspeitava, o Marfrig anunciou em 8 de dezembro a assinatura de um acordo para a compra de um conjunto de abatedouros, fábricas, centros de distribuição e marcas da BRF. Alavancado, o Marfrig pagará com os ativos da marca argentina Paty e mais R$ 200 milhões.

O anúncio pôs fim ao pedido do Cade de criar "um grande concorrente de peso" à BRF. Contudo, os desafios da companhia ainda não se encerraram no país tampouco no exterior.

O Cade será sempre uma sombra à espreita da BRF no país. Se tentar crescer inorganicamente em frangos, por exemplo, a companhia estará de mãos atadas para fazer novas aquisições, a não ser que seu foco seja em áreas onde ela não é forte. Isso significa, por exemplo, que não há restrições para a BRF adquirir empresas de lácteos.

Diante deste cenário, Fay reabriu o cofre da empresa que permaneceu fechado por praticamente dois anos e deu início à expansão da companhia no exterior. A BRF entra em 2012 com a crença de que o mercado interno seguirá forte e, em paralelo, com vários planos internacionais engatilhados.

"O Brasil deve se manter forte no próximo ano, enquanto o mercado externo preocupa um pouco, por conta da longa crise europeia. Nossa estratégia está muito voltada ao mundo emergente. Temos uma posição importante para ocupar em países como a Argentina, que futuramente será importante no comércio global de frangos", diz Fay. O desafio da BRF será transferir o modelo brasileiro para os hermanos.

Mercado chinês

Em paralelo à fábrica de alimentos processados que a BRF vai erguer por US$ 120 milhões em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, o mercado mais distante onde a empresa pretende ganhar musculatura é a China.

O distribuidor de 13 anos da BRF está se transformando em sócio da companhia no gigante asiático. Na prática, isso significa que ao invés de simplesmente embarcar peças de aves para a Ásia, a BRF vai desenvolver a quatro mãos a estratégia de desenvolvimento de proteínas no país.

Dependendo de como for o desempenho desta joint-venture com a DCH (Dah Chong Hong Limited), em dois anos a BRF poderá construir sua primeira fábrica na China.

Listada na Bolsa de Hong Kong, a DCH é um dos maiores distribuidores de automóveis, alimentos e produtos de consumo, com estrutura para a distribuição de resfriados e congelados, especialmente em Hong Kong, Macau e China.

"A China é um país enorme, com grande consumo, mas também com desafios, com leis, regras e exigências muito particulares", afirma Wilson Mello, vice-presidente de assuntos corporativos da BRF, ao lembrar que a atuação no país tem sido conduzida de forma gradual.

Além da exportação de aves, a BRF também recebeu homologação do governo chinês para iniciar as exportações de suínos. Entre o final deste mês e o início de janeiro, o primeiro lote de carne de porco da BRF deve embarcar para a China.

(Françoise Terzian l Brasil Econômico)

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