Empresas trocam dívida em banco por emissão de títulos

Empresas de médio e pequeno portes estão buscando alternativas para financiar sua expansão, a exemplo do que acontece com as grandes corporações que emitem títulos de dívida para vender aos fundos de investimento.

A vantagem é garantir taxas de juros menores por prazos mais longos. A empresa ainda reduz a dependência do financiamento bancário, liberando os limites aprovados para a gestão do caixa.

 A maior dificuldade é observar as regras de transparência exigidas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e pelo mercado.

Para emitir títulos de dívida como debêntures, empresas precisam ter balanços auditados, passar pela avaliação de agências de classificação de risco e divulgar prospectos que exigem o trabalho de bancos de investimentos, advogados e consultores.

O esforço pode não se justificar para pequenos valores. Mas, uma vez vencida a barreira, a empresa fica livre para ter acesso ao mercado de capitais com frequência.

“É comum que empresas de médio porte tenham linhas de crédito limitadas pelos bancos e, quando conseguem uma taxa menor, dificilmente o prazo passa de cinco anos”, diz Adriano Gomes, professor da ESPM.

Para os bancos, diz Gomes, empresas com faturamento de R$ 20 milhões a R$ 100 milhões têm alto risco de inadimplência. Mas há investidores dispostos a correr o risco para obter rentabilidade acima dos juros de 8% ao ano do governo.

RECEBÍVEIS

Para empresas médias, uma das formas mais fáceis de alcançar o dinheiro do investidor é pela venda de recebíveis, como prestações de compras a prazo, faturas, contratos de fornecimento e até cheques pré-datados.

Esses créditos a receber (daí o nome recebível) são “empacotados” pelas securitizadoras e transformados em aplicações (securities, em inglês) voltadas aos fundos de pensão e de investimento.

“Os investidores interessados no retorno das médias empresas têm uma visão de longo prazo, o que casa com a oferta de títulos do segmento”, afirma Moisés Jardim, diretor da Isec Securitizadora.

A estratégia funcionou para a CNL, construtora de médio porte que atua na região de Alphaville. Após 90 dias esperando a análise de crédito de um banco, a companhia procurou uma securitizadora. O pedido foi aprovado em 60 dias, com taxa menor.

“Para financiar a minha produção, consigo taxas que giram em torno de 10,5% ao ano nos bancos. Vendendo meus recebíveis a uma securitizadora, trabalho com 9% ao ano e prazos mais elásticos”, conta José Eduardo Freitas, diretor da CNL.

No caso de empresas do setor imobiliário, o retorno pode ser maior em um primeiro momento, por causa do volume de contas a receber.

“A compra de imóveis envolve valores altos e prazos longos, o que deixa a operação mais segura e atraente”, ressalta Jardim, da Isec.

Isso não significa que prestadoras de serviços, que costumam receber pagamentos menores e mais curtos, estão fora da operação.

Para elas, o caminho é um pouco diferente. “Também compramos recebíveis de empresas desse tipo, mas costumamos juntar tudo em um FIDC [Fundo de Investimento em Direitos Creditórios]”, explica Beatriz Degani, sócia da Quatá Investimentos, gestora especializada em operações para médias empresas.

Os FIDCs podem reunir papéis de cerca de cem empresas, com recebíveis de natureza e risco semelhantes.

“É uma porta de entrada. Quanto mais os investidores conhecem as empresas, mais chance elas têm de conseguir financiamentos melhores.”

(Folha de São Paulo)

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