Estratégia Ambev para cervejas artesanais: junte-se a elas

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A Ambev vai anunciar hoje uma associação inédita com uma microcervejaria, revelando a estratégia da maior empresa de bebidas do País para entrar num segmento que cresce fazendo espuma (e sem ressaca).

O acordo com a Cervejaria Wäls, de Belo Horizonte, envolve a compra de uma participação acionária da Ambev na empresa e um casamento de competências complementares.

A Ambev vai agregar tecnologia, distribuição e acesso a ingredientes, e em troca vai contar com o conhecimento do mercado de cervejas artesanais, no qual a Wäls opera desde 1999.

Os empreendedores que controlam a Wäls continuarão à frente do negócio. Os irmãos José Felipe Carneiro e Tiago Carneiro, filhos do fundador da empresa, têm respectivamente 29 e 32 anos, e transformaram uma cervejaria de chopp tradicional (cujo maior cliente era uma rede de fast food) numa companhia inovadora e premiada internacionalmente.

A Wäls, que afirma em seu site produzir “obras de arte que também podem ser chamadas de cervejas especiais”, hoje produz 17 marcas da gelada — incluindo a Wäls 42, a Wäls Pilsen, Dubbel, Duke N Duke, a Saison de Caipira e a Stadt Jever — e tem uma distribuição predominantemente no Sudeste.

A Wäls tem um faturamento anual de cerca 9 milhões de reais e produz 500 hectolitros de cerveja por mês. O acordo marca a tentativa da Ambev de se posicionar num momento em que as grandes cervejarias tentam capturar o charme das marcas artesanais, e depois da sua controladora, a Anheuser-Busch InBev, ter comprado quatro microcervejarias nos EUA desde 2011.

O ex-presidente da Ambev e hoje o principal executivo de vendas da Anheuser-Busch InBev, Luiz Fernando Edmond, disse numa entrevista ao The Wall Street Journal em dezembro que a Anheuser-Busch InBev “entrou tarde no jogo” da cerveja artesanal. “Demorou mais do que deveria para a gente reconhecer as tendências,” disse ele, acrescentando que não seria surpresa se a fabricante da Budweiser comprasse mais microcervejarias.

Para Daniel Wakswaser, diretor de marketing da Bohemia, “a dicotomia ‘cerveja tradicional versus cerveja premium’ é falsa. A gente trabalha é pro consumidor.” (Além de ser uma marca da Ambev, a Bohemia é a cervejaria mais antiga do Brasil. Foi fundada em 1853 pelo alemão Henrique Kremer.)

Não é a primeira vez que uma cervejaria brasileira tenta capturar o crescimento das craft beers. Entre 2007 e 2008, a Schincariol comprou a Baden Baden, a Eisenbahn e a Devassa. Pouco tempo depois, a Devassa se tornou uma cerveja ‘mainstream’, e as outras duas hoje são produzidas nas fábricas da Brasil Kirin, o novo nome da Schincariol.

A Ambev diz que não vai seguir este caminho. Executivos da empresa dizem que a ideia é respeitar a identidade da Wäls, e o acordo prevê que as marcas continuarão sendo fabricadas em Belo Horizonte.

As cervejas artesanais são cerca de 1% do volume de cerveja produzido no Brasil; nos EUA, já são 7,8% do volume e 14,3% do faturamento de setor cervejeiro.

(Geraldo Samor | Veja)

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