Quatro grupos na disputa pela Schincariol

SÃO PAULO – Equacionados os números – faltavam detalhes sobre o montante das dívidas, que não aparecia especificado no último balanço da empresa divulgado em abril -, quatro grandes grupos de bebidas globais devem fazer propostas para a compra da brasileira Cervejaria Schincariol: o holandês Heineken, o sul-africano SAB Miller, o inglês Diageo e o japonês Kirin.

Profissionais próximos à operação estimam que o negócio seja fechado com um valor total entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões, incluindo dívidas. Quando a especulação sobre a venda da Schincariol começou, motivada por divergências na família proprietária, um jornal americano chegou a divulgar que a Heineken teria oferecido pouco mais de R$ 2 bilhões pela companhia.

Analistas que acompanham o segmento cervejeiro no País, entretanto, projetam que o preço mínimo para a venda da Schincariol seria algo em torno de dez vezes o seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), que foi de R$ 434 milhões em 2010. Eles partem do princípio que o último grande negócio do segmento no Brasil, a venda da Cervejaria Kaiser (Grupo Femsa)para a Heineken há um ano, foi concluído por um múltiplo de oito do Ebtida.

Com 13 fábricas e líder de participação em vendas no Nordeste, uma das regiões que mais cresce no Brasil, a Schincariol faturou R$ 5,7 bilhões em 2010, um aumento de 11,8% em relação ao ano anterior. É hoje uma empresa bem mais atraente do que era a Kaiser no momento da venda.

Consolidação. Mas o que efetivamente está em jogo no momento não é só a venda da Schincariol, mas a consolidação do mercado cervejeiro global. Os últimos estudos do setor, realizados por bancos de investimentos, apostam em nova etapa de fusões e aquisições, após a onda das grandes negociações ocorridas em 2007, com a compra da gigante americana Anheuser-Busch pela belgo-brasileira InBev, que resultou na líder mundial AB InBev.

Pelos atuais cálculos, 60% da capacidade global da indústria cervejeira está sob o controle de quatro megacompanhias: AB InBev, Heineken, SAB Miller e a dinamarquesa Carlsberg. Em termos de receita, o setor como um todo movimentou algo em torno de US$ 500 bilhões em vendas por ano nos últimos três anos.

Das quatro dominantes no xadrez cervejeiro, duas ainda não entraram no Brasil, que é, depois da China, um dos mercados mais promissores. Nos EUA, Europa e Japão, o consumo cai. Os países emergentes são a bola da vez para a expansão do setor. O Brasil fabricou mais de 12 bilhões de litros no ano passado, um volume recorde. Apesar disso, o consumo per capita é de 48 litros. Os alemães, por exemplo, bebem 110 litros per capita por ano.

Próximo passo. As apostas sobre quem ficará com a Schincariol estão voltadas para a Heineken. A razão está no fato de que esse seria um segundo passo "natural" para os holandeses se estabelecerem no País. Na prática, eles estariam comprando participação de mercado. Somariam, aos 8% que detêm com as marcas Kaiser, Sol, Bavaria e Heineken, os quase 12% da Nova Schin, Devassa, Baden-Baden e Eisenbahn entre outras, da Schincariol. Com 20%, a Heineken ganharia mais escala para disputar com a Ambev, subsidiária da AB InBev e dona de 68% de participação de mercado.

A presença da SAB Miller no rol das empresas na disputa também se justifica. Afinal, no passado ela já tentou comprar a empresa. Há seis anos, a companhia sul-africana olhou os números da brasileira, mas desistiu porque a Schincariol tinha uma contabilidade desorganizada.

Já a empresa de bebidas Diageo, que tem presença no setor restrita à marca Guinness, não parece ter entrado na disputa para valer, na avaliação de executivos do setor. Além disso, a companhia inglesa mantém uma parceira com a Heineken no mercado sul-africano. Já a japonesa Kirin, embora tenha também mostrado interesse pela compra da Cervejaria Kaiser há um ano, não é vista como compradora pelas gigantes, mas sim como candidata a ser comprada. Ela é a sexta no ranking cervejeiro global.

(Marili Ribeiro l O Estado de S. Paulo)

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